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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|'Mea minima culpa'

A autocrítica do PT, ainda que deva ser entendida como um passo elogiável, é parcial e insuficiente

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Atualização:

O primeiro documento do PT editado depois do afastamento da presidente Dilma não se limita a fazer uma autocrítica dos erros e omissões cometidos nos últimos 13 anos de governo. Tenta explicar como o que chama de movimentos reacionários compostos pelas oligarquias locais, classes dominantes e, naturalmente, as forças que fazem o jogo da geopolítica norte-americana usurparam o poder.

Por aí se vê que se trata mais de uma apreciação com forte conotação ideológica do que de análise das consequências das opções equivocadas feitas ao longo do período. 

PT. Autocrítica, mas nem tanto Foto: Dida Sampaio|Estadão

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A Resolução sobre Conjuntura, disponível no site do partido, reconhece que os governos dos últimos 13 anos foram incapazes de reformar o Estado. Mas, entre as reformas que deixou de promover, não estão as que desinchariam o setor público, a que daria maior agilidade às agências reguladoras, a que proporcionaria maior eficiência do Judiciário e a desburocratização dos serviços públicos.

Também não se mencionam o abandono do projeto de reforma da Previdência, cuja necessidade a presidente Dilma chegou a reconhecer, nem tampouco a das leis trabalhistas e do sistema tributário, indispensáveis para a modernização da economia. Apenas fica reconhecido que foram relegadas “tarefas fundamentais como a reforma política, a reforma tributária progressiva e a democratização dos meios de comunicação”.

O PT ignora a importância da Operação Lava Jato e da atuação do juiz Sérgio Moro no contra-ataque à corrupção. Ao contrário, entende que “a Operação Lava Jato desempenhou papel crucial na escalada golpista” e serviu para revelar “o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal - delegados, procuradores e juízes - com o campo reacionário”. Apesar disso, reconhece terem sido seus quadros “contaminados pelo financiamento empresarial de campanhas...” e “envolvidos em práticas dos partidos tradicionais” - portanto, de corrupção.

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Além das falhas na condução política, o PT aceita a acusação de que o governo Dilma demorou a perceber o progressivo esgotamento da política econômica vigente entre 2003 e 2010. Mas em nenhum momento entendeu que sua política desmantelou as finanças públicas por meio da abertura de rombos fiscais, maquiagem das contas públicas e pedaladas nunca vistas em tal proporção. Nem tampouco, que suas políticas derrubaram a indústria, quase destruíram a Petrobrás e minaram a saúde do sistema elétrico. Em nenhum momento aceita a responsabilidade pelo estado lamentável da Educação, da Saúde e da Segurança Pública.

Quando se referiu à atuação do Banco Central, admitiu como errada a decisão de elevar os juros, mas não explicou que isso só aconteceu em consequência da disparada da inflação produzida pela política econômica adotada. O ajuste fiscal empreendido a partir de 2014 não foi causa da recessão, que começou antes, mas consequência de um Tesouro quebrado.

Faltou admitir, também, que nenhuma política de crescimento econômico e de desenvolvimento social será sustentável sem equilíbrio das contas públicas e sem solidez dos fundamentos da economia.

A autocrítica do PT, ainda que deva ser entendida como um passo elogiável, é parcial e insuficiente.

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Não deu No seu documento de autocrítica, o PT reconhece que não conseguiu atingir seus objetivos na Polícia Federal, no Ministério Público, nas Forças Armadas, no Itamaraty e na “estrutura monopolista” dos meios de comunicação: “Fomos descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty; e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.

Prejuízo A falta de reforma política e as imposições do jogo eleitoral estiolaram a vida interna do PT - diz a Resolução: “O partido perdeu capacidade de elaboração, formação e protagonismo na batalha das ideias. Milhares de novos filiados foram incorporados sem quaisquer vínculos com o pensamento de esquerda ou nosso programa”.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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