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Medida abala imagem da Argentina no exterior

Taxa de risco do país, que já estava subindo nos últimos meses, acelerou desde que o governo anunciou o controle compulsório da petroleira YPF

Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

A expropriação da empresa petrolífera YPF, protagonizada pelo governo da presidente Cristina Kirchner - defensora de uma crescente intervenção do Estado na economia argentina -, está abalando a imagem do país nos mercados internacionais. A taxa de risco da Argentina, que estava subindo nos últimos meses, acelerou sua escalada desde que o governo argentino anunciou o controle compulsório da subsidiária da espanhola Repsol no país. Ontem o risco chegou a 989 pontos básicos, superando outro país com fama de "imprevisível" na região, a Venezuela do presidente Hugo Chávez, que encerrou o dia com 961 pontos. Segundo a consultora IdeaGlobal, de Nova York, "há muito tempo a Argentina foi um dos destinos mais desejáveis para investimentos na América Latina. Mas, com as medidas adotadas contra a YPF, a Argentina se afasta mais desse exame". Embora o ministro de Planejamento argentino, Julio De Vido, tenha afirmado na terça-feira que o governo já estava recebendo sinalizações de empresas interessadas em associar-se com a nova YPF, a opinião de analistas de mercado é de que a Argentina não deve conseguir atrair novos investimentos para nenhum setor, pelo menos no curto prazo."Quem está instalado no país não vai sair porque não tem para quem vender seus ativos e quem está fora não quer entrar por falta de segurança para seus investimentos", disse um executivo brasileiro que opera na Argentina.Impasse. Segundo a fonte, que prefere preservar sua identidade, as empresas que operam na Argentina dificilmente vão aumentar seus investimentos para ampliar a capacidade de produção. "As empresas avaliam que ainda ganham dinheiro na Argentina, mas permanecer no país é um dilema: quanto mais pode deteriorar o valor das empresas e o custo de produção?", questiona.Já o analista Uziel Nogueira, ex-economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), especialista em integração, afirmou que os grandes perdedores dessa cruzada contra a Repsol, iniciada em janeiro, são as empresas internacionais espanholas instaladas na Argentina.Ele explicou à Agência Estado que o crédito barato originário da entrada da Espanha na zona do euro nos anos 90 permitiu aos empresários espanhóis uma oportunidade única: adquirir, por preço de oferta, empresas estatais em processo de privatização na América Latina, principalmente Argentina e Brasil. A preocupação sobre eventuais expropriações em outras empresas chegou à Itália, onde o primeiro-ministro Mario Monti afirmou que a decisão de Cristina "é prejudicial para todos". Monti está preocupado com o destino da empresa italiana elétrica Enel, que na Argentina controla a empresa de distribuição de energia elétrica Edesur. Num discurso, Cristina declarou ontem que a YPF não foi nacionalizada nos nove anos prévios de governo Kirchner porque "a História se constrói como a gente pode, e não como a gente quer. Alguns perguntam por que não fizemos isso antes. Mas este não é um caminho reto, sem tropeções e quedas. É com altos e baixos e obstáculos, que precisam ser esquivados". / COLABOROU MARINA GUIMARÃES

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