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Medida pode não destravar o crédito

Estímulo para empréstimos tem de vir de outra forma, diz analista

Por Leandro Mode
Atualização:

As medidas do Conselho Monetário Nacional (CMN) para aumentar a liquidez dos bancos menores e, com isso, ajudar a destravar o crédito foram bem recebidas pela Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne as instituições de pequeno e médio porte. Também foram bem vistas por analistas, que, no entanto, relativizam seu efeito do ponto de vista da concessão de empréstimos. "É uma decisão muito feliz, algo que pleiteamos desde setembro (quando a crise global se aprofundou)", disse o presidente da ABBC, Renato Oliva. Na avaliação dele, o formato criado pelo CMN, via Recibo de Depósito Bancário (RDB), permitirá a volta da confiança nos bancos menores e possibilitará um melhor "casamento" entre ativos e passivos dessas instituições. O RDB é um papel inegociável, intransferível e tem prazo determinado - diferentemente dos CDBs, que têm liquidez diária. Um dos problemas que esses bancos enfrentaram após o agravamento da crise foi justamente o descasamento entre ativos e passivos. Os bancos emprestavam por um período longo, mas captavam em prazos mais curtos. Com a piora da situação global, muitos investidores retiraram seus depósitos, o que as impediu de continuar emprestando. Mais até, obrigou-as a se desfazer de carteiras de crédito já constituídas. Na avaliação do advogado Jairo Saddi, que também é professor do Ibmec São Paulo, as medidas são realmente positivas desse ponto de vista. No entanto, tem dúvidas sobre a disposição desses bancos de voltar a oferecer crédito em um ambiente econômico ainda marcado pela instabilidade. "Os empréstimos só são realmente destravados com uma política monetária menos apertada e com incentivos para a concessão", afirmou Saddi. "Não incentivos fiscais, mas de outra natureza, que estimulem as instituições a emprestar." Oliva garante que os bancos menores vão, sim, usar o benefício para aumentar suas carteiras de crédito. "?Encarteirar? o dinheiro é prejuízo na certa", disse. "Para que captar a 130% do CDI (taxa de juros de referência do sistema interbancário) para repassar a 100% do CDI (investindo em títulos do governo)?", indagou. O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, disse que as medidas do CMN de fato beneficiarão os bancos menores, mas, segundo ele, criam "o dilema clássico do ?risco moral?. Ou seja, há o risco de o governo dar muitas garantias, mas os bancos não agirem de acordo com as regras. O CMN decidiu que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) vai assegurar depósitos de até R$ 20 milhões por aplicador (por CNPJ ou CPF) e por instituição. Antes, o fundo garantia depósitos de até R$ 60 mil. A intenção do governo é dar tranquilidade aos investidores para que voltem a comprar papéis emitidos pelos bancos menores, aumentando recursos para crédito. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, por meio da assessoria de imprensa, que ainda estudava as medidas. Por isso, preferia não se pronunciar. COLABORARAM LUCIANA XAVIER E CRISTINA CANAS

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