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Medidas do BC equivalem a alta do juro de 0,5 ponto porcentual, diz LCA

Segundo consultoria, aperto de liquidez também pode descartar elevação da Selic em janeiro

Por Ricardo Leopoldo e da Agência Estado
Atualização:

SÃO PAULO - A decisão do Banco Central de elevar o compulsório em R$ 61 bilhões equivale a um aumento da Selic de, pelo menos, 0,5 ponto porcentual, estimou o economista-chefe da LCA, Braulio Borges. Segundo ele, essa medida de aperto de liquidez não só descarta o aumento de juros na próxima semana, como tem boas chances de que o BC ganhe tempo para não precisar elevar os juros em janeiro, na primeira reunião da instituição sob a presidência de Alexandre Tombini. "Além disso, o BC também adotou um aperto nas condições de crédito de longo prazo, o que vai promover logo um aumento dos juros das prestações ao consumidor", disse.

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Para Borges, além das medidas "macroprudenciais" anunciadas nesta sexta-feira, 3, pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, outro fator importante que sinalizará que o Copom não precisará elevar os juros em janeiro será a postura da política fiscal pelo governo da presidente eleita Dilma Rousseff. E o aumento do salário mínimo que passará a vigorar em janeiro é fundamental nesta questão, pois, segundo ele, esta remuneração piso da economia representa 43% dos gastos primários do governo central, dado que quase metade dos beneficiários do INSS recebem um salário mínimo.

"Se o mínimo for para R$ 540,00 isso representará um aumento real nulo. Caso o reajuste vá para R$ 550,00, tal número representará um ganho real de 1,5%, bem inferior à média de 6% apurada entre 2004 e 2010. Dilma Rousseff reiterou nesta semana que o aumento que sua administração dará vai elevar o mínimo para R$ 540,00.

Segundo o economista-chefe da LCA, as medidas que restringem o crédito de longo prazo visam evitar o surgimento de bolhas de crédito no futuro e a ocorrência de uma forte onda de inadimplência para financiamentos ao consumidor. "No caso de quem compra um bem durável e precisa pagá-lo em 48 meses, a inadimplência nos primeiros 12 meses de pagamento de parcelas está perto de 1%, mas esse indicador sobe para perto de 10% no quarto ano", relatou.

Para Borges, o pacote que o BC anunciou tem, na prática, dois objetivos: a adoção das "medidas macroprudenciais" que o G-20 discutiu na última reunião em Seul e que visa institucionalizar políticas econômicas anticíclicas, a fim de prevenir bolhas de ativos financeiros e a súbita quebra de economias, extremamente alavancadas em instrumentos de crédito. Ou seja, o Brasil ratifica sua posição de ser um dos primeiros países a implementar medidas cautelosas para proteger a boa saúde de sua economia, sobretudo garantir no longo prazo a higidez do sistema financeiro. E o segundo objetivo é que o maior esforço de política monetária pelo BC na gestão de Meirelles, diminui a necessidade do governo Dilma Rousseff de elevar os juros, o que é a última decisão que a presidente eleita desejaria adotar, dado que possui uma agenda administrativa clara: ajuste fiscal rigoroso, cumprimento do superávit primário na meta de 3,1% do PIB para 2011, aumento substancial da poupança do País, a fim de elevar os investimentos nacionais de 17,9% em 2010 para 23% em 2014, como ressalta o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Dilma declarou em campanha que quer levar os juros reais da atual marca próxima a 5,8% para perto de 2% em quatro anos. E a redução dos juros no médio prazo é fundamental não só para elevar a Formação Bruta de Capital Fixo do País, que é muito baixa, mas também diminuir a atratividade do capital estrangeiro para fazer arbitragem e reduzir a valorização do câmbio. De acordo com a série temporal 11.753 do Banco Central, a taxa de câmbio real apresentava uma valorização de 31,46% em setembro deste ano em relação a junho de 1994, e subiu para 32,46% em outubro de 2010 na mesma base de comparação.

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