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Medidas protecionistas batem recorde e atingem comércio equivalente a US$ 481 bi

Para a Organização Mundial do Comércio (OMC), que levantou os dados, as ações restritivas podem colocar a recuperação econômica mundial em risco

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:

GENEBRA- O número de medidas protecionistas adotadas pelas maiores economias do mundo batem recorde e as novas barreiras já atingem um comércio equivalente a US$ 481 bilhões. Os dados estão sendo publicados nesta quinta-feira pela Organização Mundial do Comércio, às vésperas do encontro do G-20 em Buenos Aires e mostram a maior proliferação de iniciativas protecionistas desde que o levantamento começou a ser realizado em 2012.

Para a OMC, não restam dúvidas: "a proliferação de ações restritivas podem colocar a recuperação econômica mundial em risco".

OMC Foto: Denis Balibouse/Reuters

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Nos últimos meses, a guerra comercial instalada entre os EUA e a China levou a comunidade internacional a temer pelo futuro das regras do multilateralismo. Nesta semana, o governo Trump chegou a ameaçar tornar a OMC "inviável" se ela julgar como ilegais as barreiras que a Casa Branca vem adotando.

Agora, num alerta aos presidentes do G-20, a OMC deixa claro que os últimos seis meses registraram o maior número de novas barreiras já impostas sobre o comércio em seis anos. Entre maio e outubro de 2018, o volume de comércio atingido pelas novas medidas protecionistas foi seis vezes maior que nos seis meses anteriores.

A OMC passou a monitorar o cenário internacional desde que, por conta da crise financeira internacional, o risco do protecionismo ganhou força.

"Esse informe fornece uma primeira visão factual sobre as medidas restritivas que foram introduzidas nos últimos meses e que agora cobrem mais de US$ 480 bilhões em comércio", disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo. "Os resultados do informe devem ser uma séria preocupação aos governos do G-20 e para a comunidade internacional como um todo", alertou.

Para ele, uma escalada ainda maior do protecionismo é possível. "Se continuarmos nesse caminho, os riscos econômicos vão aumentar, com um potencial efeito para o crescimento, empregos e preços aos consumidores em todo o mundo", alertou.

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Segundo o brasileiro, a OMC está fazendo "o que pode" para tentar tirar a força da crise. Mas ele alerta que uma solução exigirá "vontade política e liderança do G20".

O levantamento mostra que, em seis meses, as 20 economias mais ricas do mundo adotaram um total de 40 novas barreiras ao comércio, sem contar as dezenas de medidas antidumping e salvaguardas. Isso seria o equivalente a oito medidas por mês. No mesmo período, apenas 33 medidas de abertura de comércio foram adotadas.

A OMC também registrou novos números de investigações antidumping por parte dos governos do G-20. Empresas de aço, além de móveis e maquinas elétricas, estão entre as mais atingidas. No total, US$ 25 bilhões em comércio foram afetados.

Brasil

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Se por anos o Brasil liderou entre os países que mais adotaram medidas restritivas, essa tendência foi revertida nos últimos meses. De acordo com o levantamento, o governo brasileiro adotou um total de oito medidas facilitando o comércio, contra sete medidas protecionstas. Nos EUA, por exemplo, foram mais de 19 medidas protecionistas em apenas seis meses.

De um total de 44 medidas de salvaguardas impostas no mundo entre julho de 2017 e junho de 2018, apenas uma foi iniciada pelo Brasil. Nos EUA, foram 25.

De um total de 201 novas investigações de antidumping iniciadas, apenas nove foram feitas pelo governo brasileiro. Os americanos e europeus, cada qual com 43 medidas, lideraram o ranking.

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Nesse mesmo período avaliado, o Brasil de fato aplicou apenas dez medidas, contra um total do G20 de 165 casos, sendo 34 deles adotadas pelo governo de Donald Trump.

Apesar do alerta da OMC, o rascunho da declaração final da cúpula do G-20, em Buenos Aires, pela primeira vez não trará um apelo explícito dos líderes contra o risco do protecionismo e pedindo que a abertura de mercados seja preservada.

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