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Meirelles apresenta origens da crise externa na Câmara

Por Renata Veríssimo e ADRIANA FERNANDES E FABIO GRANER
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez exposição hoje no plenário da Câmara dos Deputados sobre a crise financeira internacional. Ele explicou que iria apresentar as origens da crise e as medidas já adotadas no Brasil para mitigar os efeitos no balanço de pagamentos e resolver as restrições de liquidez. Segundo ele, o Brasil, pela primeira vez em um momento de crise internacional, é um dos países a apresentar bom desempenho na economia mundial. Utilizando apresentação com recursos gráficos, Meirelles mostrou a origem da crise, atribuindo-a à grande alavancagem (dívida em relação ao patrimônio) dos bancos nos Estados Unidos e ao permissivo quadro regulatório norte-americano. Segundo ele, o quadro benigno começou a ser revertido em meados de 2007. De acordo com ele, houve aumento da inadimplência no crédito habitacional naquele país, revertendo a estabilidade de alguns anos nessa área. Com isso, acrescentou, os bancos perderam a capacidade de continuar expandindo e começaram a registrar problemas de crédito. Vulnerabilidade Meirelles afirmou que a posição cambial credora do Brasil "mostra-se providencial" neste momento de crise. O presidente do BC voltou a dizer que o Brasil hoje é mais resistente aos choques externos e creditou isso, sobretudo, à política de redução da vulnerabilidade externa, que fez com que o Brasil saísse de um endividamento em dólar de 55,5% de sua dívida para uma posição credora em dólar de cerca de 28% do total. Dessa forma, explicou, os choques externos que antes geravam depreciação cambial e aumento da dívida pública, piorando a percepção de risco e alimentando a desvalorização do real, hoje fazem com que a dívida pública caia em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e se torne um fator estabilizador para a economia brasileira. Ele repetiu a projeção do BC para a relação dívida/PIB em setembro, que é de 38,9%, a mais baixa desde 1998, e disse também que em outubro, com a alta do dólar, a dívida deve ter caído abaixo desse valor. Liquidez Meirelles afirmou que a crise gerou um problema de liquidez para o Brasil e reconheceu que, por conta disso, houve queda no fechamento de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC), o que, no entanto, avalia, deve ser normalizado com os leilões de empréstimos em dólar realizados pelo BC. Ele ressaltou que os valores que o Brasil tem gasto para mitigar os efeitos da crise no País são inferiores aos empregados pelos países desenvolvidos ou outros emergentes. Incerteza Meirelles disse também que há ainda um fator de incertezas sobre a economia mundial, que é o montante de prejuízos que ainda serão reconhecidos pelos bancos norte-americanos. Ele ponderou sobre os problemas de capitalização das instituições financeiras no mundo desenvolvido, que exigiram fortes intervenções governamentais, sendo parte significativa destinada a capitalizar os bancos. Meirelles ressaltou que os bancos brasileiros, ao contrário, estão com índices de capitalização acima do requerido, bem como têm indicadores positivos de rentabilidade, liquidez e inadimplência. Meirelles afirmou que o mundo, por conta da crise, está crescendo menos, e as estimativas atuais tendem a ser revisadas para baixo.

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