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Meirelles diz que economia 'não precisa mais de estímulos anticrise'

Em Davos, presidente do BC disse que crise já foi superada e economia está 'normalizada'.

Por Pablo Uchoa
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse nesta sexta-feira em Davos, na Suíça, que a economia brasileira superou a crise econômica e não precisa mais de "estímulos" para combater a desaceleração. Ecoando as palavras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse em Zurique que "a economia não precisa mais da ajuda do Estado", o presidente do BC disse que o país teve uma típica crise em formato de "V": "curta, mas de grande intensidade". "Hoje a economia brasileira volta à normalidade e não é necessário mais estímulos anticrise", disse Meirelles. O discurso afinado da equipe econômica, que veio à Suíça para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, é revelado no momento em que outros países discutem "estratégias de saída" da crise, no sentido de desvencilhar o Estado da vida econômica, pelo menos nos níveis em que se viu obrigado a se meter para salvar as empresas. Mas, ressaltam os porta-vozes da economia brasileira, esse não é um problema do país, onde o que requer atenção é a possibilidade de superaquecimento. Sobre esse tema, Mantega disse que não vê formação de nenhuma "bolha". Citou como exemplo a indústria, que deve encerrar o ano com queda de 5%, recuperando-se de uma retração de 20% no primeiro trimestre do ano, mas ainda com capacidade ociosa e necessidade de absorção de mão-de-obra para crescer em 2010. Henrique Meirelles, cujas reações são minuciosamente estudadas pelo mercado para interpretar movimentos na taxa de juros, disse que "não está clara a necessidade de freio" na economia. "O que está clara é a necessidade de desacelerar." Investimentos e consumo O chefe da autoridade monetária disse que neste ano os investimentos devem superar o consumo interno como motor da economia, para gerar um crescimento de 5,8%. "O crescimento do ano de 2009 foi liderado fortemente pelo consumo. (Em 2010) o consumo doméstico vai continuar forte, mas a liderança passa para o investimento, que vai crescer a dois dígitos esse ano", avaliou. Em relação à questão fiscal, ele estima que o país mantenha neste ano o superávit primário de 3,3% e perceba uma queda na relação dívida/PIB. "Continuando-se esse processo no próximo governo, o saldo primário sendo mantido para 2011, nós teremos a dívida pública caindo para os níveis pré-crise no final de 2011", afirmou. Antes da crise, esta relação oscilava entre 40% e 41% do PIB - hoje, está em pouco mais de 43%. Por essas razões, nem o ministro nem o presidente do BC vêem necessidade de prosseguir com os estímulos para evitar a crise. Como ações concretas, Guido Mantega mencionou explicitamente o fim do IPI (imposto sobre produtos industrializados) reduzido para os eletrodomésticos de linha branca e o setor automotivo, que já estão na fase final do seu cronograma. Além desses, Meirelles afirmou que o BC vem reduzindo os chamados empréstimos de reservas e o direcionamento do dinheiro dos compulsórios para setores da economia. Estabilidade O que não quer dizer que a economia não precise da ação do Estado. Durante toda sua entrevista, na quinta-feira, Mantega disse e repetiu que a única razão para suspender os estímulos agora é que a estratégia de intervenção do Estado foi bem-sucedida. Em uma simples analogia médica, se a economia fosse um corpo convalescente, Mantega e Meirelles estariam indicando que é hora de suspender a medicação e se preocupar mais com o "bem-estar geral" do paciente. Para Meirelles, uma questão central nessa discussão é a manutenção do equilíbrio macroeconômico. "Durante muitas décadas, ou uma década e meia, o Brasil tentou crescer mais criando desequilibrios macroeconomicos. E o Brasil aprendeu que criar desequilíbrios macroeconômicos não é a maneira de crescer mais rápido", disse. "A estabilização da economia, disciplina fiscal, inflação baixa, acúmulo de reservas, tudo isso dá a estabilidade necessária para que se ampliem os horizontes de planejamento e se aumente o investimento nacional e estrangeiro, e o país possa crescer e criar empregos, manter o poder de compra do trabalhador assalariado, do profissional liberal e daquele beneficiário dos programas sociais. Isto é inquestionável." Para ele, o sucesso dessa lógica e, mais que isso, dessa prática econômica no Brasil teria como reflexo uma maior estabilização no campo político, já que nenhum novo governo estaria disposto a - novamente nas palavras do ministro Mantega - "jogar fora uma estratégia de sucesso". "Hoje, uma boa parte da aprovação do governo se dá em função do aumento na renda, da preservação do poder de compra em função da inflação baixa, do aumento da classe média, da criação de empregos formais", disse Meirelles, ecoando o ministro. "Então existe muito pouco espaço político para uma mudança drástica de política econômica, seja lá qual for o candidato. Hoje, ao crontrário do passado, não existe mais esse dilema entre estabilidade e crescimento. Hoje em dia, temos crescimento com estabilidade." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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