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Meirelles nega novas mudanças na diretoria do BC

Segundo ele, saída de Afonso Bevilaqua "é um processo absolutamente normal"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, negou nesta sexta-feira, 2, que a substituição do diretor de Política Econômica da instituição, Afonso Bevilaqua, seja o início de um processo de mudanças dos membros da diretoria do BC. "Não há esse fenômeno de ´gatilho´ no BC", afirmou, após ser questionado sobre se a saída de Bevilaqua poderia engatilhar uma série de substituições na diretoria da instituição. Segundo ele, Bevilaqua é um dos diretores mais antigos do BC, onde ficou quase quatro anos, sendo também o que ficou por mais tempo na diretoria desde a implementação do regime de metas de inflação. "Portanto, sua saída é um processo absolutamente normal. Ele está no momento de procurar novos desafios profissionais e ficar mais tempo perto da família, que não mora em Brasília", explicou. Ele voltou a dizer que, sob sua gestão, nove diretores já foram substituídos no Banco Central. "É um processo saudável e que mostra o dinamismo da instituição", observou após participar de seminário do BC sobre Acesso ao Sistema Financeiro Nacional, realizado no auditório da Ordem dos Economistas do Brasil, em São Paulo. O presidente do BC também negou que a diretoria de Assuntos Especiais da instituição será eliminada ou fundida com alguma outra diretoria. Segundo ele, por não ter funções executivas, a diretoria sempre foi usada para preenchimento transitório em que diretores que posteriormente assumiram outras diretorias passaram por períodos de estudos especiais. "É o caso do diretor Alexandre Tombini, que ocupou essa diretoria durante um certo período antes de assumir a área econômica, e do próprio Afonso Bevilaqua, que a ocupou enquanto fazia processo de transição com o então diretor Ilan Goldfajn", disse. Meirelles destacou que a indicação de Mário Mesquita para o lugar de Bevilaqua não pode ser encarada como algo interino ou definitivo. "O diretor de Política Econômica hoje é Mário Mesquita. E tal qual o diretor de Normas, Alexandre Tombini, presente hoje a este evento, todos os diretores estão sujeitos a serem demitidos, mudados ou pedirem demissão a qualquer momento", afirmou. "O importante é que ele está perfeitamente qualificado para a posição. E em sendo confirmado na presidência do BC, eu convidarei os demais diretores para permanecerem, inclusive o diretor Mário Mesquita", disse Meirelles. Mas isto, afirmou, só será confirmado "quando e se o presidente da República me convidar para continuar no BC", ressaltou. Crescimento Ele afirmou que o Brasil já começou este ano mostrando um crescimento muito forte da economia. "Os indicadores preliminares apontam que o crescimento do primeiro trimestre está ainda mais forte", afirmou. De acordo com Meirelles, a expansão de 1,1% no quarto trimestre do ano passado em relação ao terceiro, se anualizada, atingiria uma média de 4,43%. "Esta é uma taxa muito saudável. E estamos no início de 2007 já vendo um crescimento próximo a 4,5%", comentou. Segundo ele, além de ser um porcentual elevado para o início do ano, ele está baseado em "fundamentos saudáveis". O presidente do BC citou o crescimento do mercado de trabalho, da renda, da massa salarial e da oferta. "Esse último ponto é muito importante, até porque vimos crescimento dos investimentos", destacou. Meirelles disse também que a expansão do crédito é fundamental para o País, e que há quatro anos representava 21% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, segundo ele, essa taxa já está em 33%, o que mostraria um crescimento de 50%. De acordo com ele, o País está entrando em uma nova fase de sua história em que se torna prioritário discutir o crescimento econômico. Segundo ele, o crescimento não é algo teórico, decidido na base da caneta. "O crescimento é aqui e hoje, isso determina a eficácia e a produtividade da sociedade. É importante que haja interação entre o público e o privado nesse processo", afirmou. "Estamos entrando em uma nova fase no Brasil e é importante que todos tenham consciência disso." Meirelles destacou que o País passou por período prolongado de crises periódicas, que impediam o crescimento econômico. Era uma época em que ou estávamos saindo ou entrando ou evitando entrar em uma crise", disse. Ele destacou que o problema da dívida externa era bastante grave no Brasil e foi praticamente resolvido durante o governo Lula. Ele citou que em uma visita a um museu na Europa teve acesso ao documento que detalhava o primeiro empréstimo que o Brasil tomou em 1822. "Li também os documentos de que tratavam das inúmeras reestruturações dessa dívida por décadas", ressaltou. "Hoje, isso é parte do passado, temos mais de US$ 100 bilhões em reservas, nossa dívida externa é de US$ 63 bilhões e o total dela cabe totalmente dentro das reservas. Temos ainda um saldo comercial forte e saudável. E eliminamos complemente a dívida atrelada ao dólar", exemplificou. Turbulência O presidente do BC afirmou que o Brasil hoje está em uma posição muito melhor do que a do passado para passar por turbulências econômicas internacionais. "O Brasil hoje tem muito mais força para passar por situações deste tipo", afirmou. O presidente do BC deu como exemplos de melhoria da economia brasileira nos últimos anos o aumento das reservas acima de US$ 100 bilhões, os saldos comerciais elevados, a mudança do perfil da dívida, com o fim da indexação cambial, e a inflação na meta. "O Brasil tem que olhar com bastante atenção para esta questão. Mas sem a preocupação que tem os países mais vulneráveis", comentou. Meirelles disse ainda que é cedo para avaliar se a crise externa é pontual e que é preciso aguardar novos dados da economia norte-americana. Ele disse ainda que "de certa forma" esta crise é saudável para a economia de todo o mundo. "Vamos ver se esta crise vai se espalhar ou contaminar outros mercados. Até agora, isso não tem acontecido e a crise de certa forma é até saudável." Câmbio A recente valorização verificada no mercado de câmbio foi atribuída por Meirelles ao sucesso da economia brasileira. "O Brasil está de uma certa maneira pagando o preço do sucesso", disse, citando que a recente valorização do real frente ao dólar é efeito da crescente fatia das exportações, dos grandes saldos comerciais, da expansão agrícola e mineral e também dos ganhos de eficiência nas empresas brasileiras. Para ele, esse processo se resolverá de forma natural. "O BC está atento. O BC se preocupa evidentemente, tal qual o restante do governo, com as companhias exportadoras", afirmou. Meirelles enfatizou ainda que o trabalho do BC está absolutamente sintonizado com o governo. "O BC tem feito tudo o que julga mais adequado para o País", disse. Juros Ele evitou fazer comentários sobre a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para terça e quarta-feira da semana que vem. Questionado se a turbulência externa poderia levar a diretoria do BC a tomar uma decisão mais cautelosa em relação à política monetária, Meirelles respondeu: "Nós não fazemos anúncios futuros de taxa Selic. O BC sempre está analisando os fatores pertinentes". Diante da insistência dos jornalistas sobre se a instabilidade do cenário internacional também será levada em conta na próxima reunião, Meirelles, bem humorado, limitou-se a dizer: "pela minha experiência já chegamos no ponto em que acabaram as perguntas". Segundo a assessoria de imprensa do BC, Meirelles passará o fim de semana em São Paulo, mas não participará de nenhum evento público. Matéria alterada às 14h51 para acréscimo de informações

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