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Meirelles: remuneração da poupança 'é um problema'

Por FABIO GRANER E CELIA FROUFE
Atualização:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse hoje que a questão da remuneração da poupança é, de fato, um problema que se coloca no momento em que há queda nas taxas de juros e o mercado prevê novos cortes na Selic (taxa básica). "Sem dúvida, esse é um problema que se coloca", afirmou, explicando que a dificuldade não se restringe à poupança, já que é mais ampla ao estar relacionada ao nível de indexação da economia. "Tínhamos uma economia organizada para trabalhar com juros elevados. Este é um desafio que terá que ser equacionado. Não vou dar uma solução aqui porque essa é uma decisão das senhoras e senhores do Congresso Nacional", disse. Ele participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. No evento, Meirelles voltou a defender a política monetária e destacar que ela tem sido bem-sucedida, já que o BC consegue, hoje, cortar juros sem que haja uma deterioração nas expectativas de inflação. Meirelles rebateu as críticas do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de que o Banco Central atrasou o início dos cortes da taxa Selic. "A taxa Selic boa é a adequada. Não é a mais baixa possível nem a mais alta possível", afirmou. Mercadante ironizou a resposta de Meirelles dizendo que o presidente do BC é um craque porque falou sobre o tema, mas "não disse nada". Em resposta, Meirelles disse que existe um viés de que a taxa Selic boa é a mais baixa. "Esse viés não é adequado. A taxa boa é aquela adequada para determinado momento", reforçou.O papel do BC, afirmou ainda Meirelles, é agir preventivamente e, por isso, quando essa ação preventiva dá certo, as pessoas dizem que ela não era necessária. "O fato é que hoje estamos cortando juros e as expectativas de inflação caíram", afirmou ao defender a decisão do BC de manter os juros em dezembro.PIBO presidente do BC disse também que as projeções de mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano estão "pessimistas" e o Banco Central acredita que o País terá um desempenho um pouco melhor do que o que analistas estão projetando. Nesta semana, a pesquisa Focus do Banco Central mostrou que a mediana das projeções do mercado está em leve expansão, de 0,01%, para a evolução do PIB este ano. Apesar de questionar essas projeções, Meirelles evitou antecipar qual é o número do BC, alegando que, na próxima semana, divulgará sua previsão no Relatório de Inflação referente ao primeiro trimestre.O presidente do BC destacou que há um consenso de que o Brasil terá um desempenho melhor do que a média mundial e do que a média dos emergentes. Ele destacou que, no pior momento da crise para o Brasil, que foi o quarto trimestre do ano passado, o País teve um crescimento melhor do que países como Chile, México e alguns europeus, na comparação com o quarto trimestre do ano anterior. DívidaO Brasil talvez seja o único País do mundo a ver que sua dívida pública líquida caiu mesmo após o início da crise, segundo Meirelles. De acordo com dados fornecidos pelo presidente do BC, a dívida líquida do setor público consolidado representava 36,6% do PIB em janeiro deste ano. Ainda segundo Meirelles, o volume é de aproximadamente US$ 80 bilhões, ante US$ 200 bilhões das reservas internacionais. O presidente do BC disse que a dívida privada também está em processo de queda, mas que este fato não é necessariamente positivo como no caso da dívida pública. Segundo ele, a queda está ocorrendo porque as empresas não estão capazes de rolar suas dívidas externas e as têm trocado por endividamento interno. "Por isso, o BC está oferecendo linhas de crédito", explicou.SpreadMeirelles foi enfático ao dizer que há espaço para a redução do spread bancário, diferença entre o custo de captação dos recursos pelo banco e o juro cobrado no empréstimo. "O spread do Brasil subiu com a crise, mas há espaço para cair, não há dúvida", afirmou, acrescentando que as equipes técnicas do Ministério da Fazenda e do BC estudam o tema no momento.

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