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Meirelles sinaliza preocupação menor com inflação

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que vinha ultimamente fazendo seguidas advertências sobre o impacto dos reajustes pela inflação passada na realimentação da chamada "inércia inflacionária", deu hoje, pela primeira vez, indicações de que este quadro mais preocupante pode estar começando a mudar. "Estamos exatamente num momento de transição, no qual a sociedade começa a deixar de olhar o passado da inflação e passa a se concentrar no futuro", afirmou Meirelles em Londres após um encontro com investidores nesta quarta-feira. "É um momento crucial, um momento crucial", reiterou. Meirelles disse que à medida que a sociedade acredita que o BC está comprometido no combate à inflação, "os formuladores de preços começam a apostar na eficácia desta política". Quando os formuladores não acreditam no BC, explicou Meirelles, eles se concentram na inflação passada, mas, quando vêem que o BC tem uma política implacável contra a inflação, passam a apostar na inflação futura. Cenário externo Meirelles disse que presenciou uma reação extremamente positiva em relação ao Brasil. "Utilizando uma expressão de um dos investidores, não há dúvida que o Brasil é hoje uma das estrelas dos emergentes", afirmou. Ele também disse que esse quadro favorável é resultado do superávit primário, da política monetária, do combate à inflação, "da política sólida do BC" e do compromisso das reformas", entre outras coisas. Ele ressaltou que no contato com os investidores pôde constatar que os fortes fluxos de investimentos que migraram para o Brasil em busca de retornos mais elevados não são apenas de curto prazo. "Há investimentos de permanência, que devem ficar pelo menos um ano", afirmou. O presidente do BC afirmou que não prevê "mudanças abruptas" no quadro externo e ressaltou que, dentro desse quadro, não se prevê uma alta de juros nos EUA e Europa nos próximos meses. Segundo ele, há perspectivas de crescimento moderado para a Europa O presidente do BC disse que não comentaria sobre rumores de que o Brasil se prepara para realizar uma nova emissão soberana. Mas disse que "o quadro no exterior é favorável". Debate sobre juros O presidente do BC, ao ser questionado acerca do debate sobre a taxa de juros no Brasil, disse que não o considera "uma interferência na instituição". "Vejo esse debate com muita tranqüilidade", afirmou. "Debates fazem parte da democracia e a classe política tem mesmo que debater. Não há nenhum constragimento nisso", afirmou. Meirelles observou também que a questão dos juros é um tema visto com maior tranqüilidade no exterior. "Isso também é um fator normal, pois, por exemplo, hoje na Alemanha o debate sobre os juros na Europa é mais intenso do que em outros lugares", afirmou. Medidas do governo Ao ser indagado sobre os spreads bancários ? diferença entre a taxa de captação de recursos junto aos investidores e os juros cobrados nos empréstimos ?, Meirelles disse que o BC "está trabalhando neste assunto e medidas deverão ser anunciadas em breve". Meirelles citou, entre as medidas, os créditos de cooperativas, o microcrédito e também o encaminhamento da Lei de Concordata e Falências. "São medidas que vão gerar aumento da competição na concessão de créditos. Mas existem outras que não me compete anunciar", afirmou. O presidente do BC disse, no entanto, que o Cade deverá passar a fiscalizar a concessão bancário ao consumidor por intermédio de uma lei que está sendo encaminhada ao Congresso. "O Cade vai cuidar desse assunto. Mas o BC vai apenas se reservar ao direito de analisar as fusões (no setor)", afirmou. Meirelles observou também "que a própria estabilidade de preços facilita a competição na concessão ao crédito e conduz a uma maior oferta". De acordo com o presidente do BC, compete à imprensa e às instituições que operam com taxas menores divulgarem ao consumidor esses créditos mais atraentes.

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