PUBLICIDADE

Meirelles sugere que países adotem ações anticíclicas

Presidente do BC diz, porém, que a situação brasileira é diferente da China, que precisa estimular o consumo

Por Renée Pereira
Atualização:

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, defendeu ontem, em São Paulo, a adoção de medidas anticíclicas em todos os países em dificuldade para enfrentar a crise mundial. "A recomendação para todos é que criem políticas anticíclicas, políticas fiscais e políticas de liquidez para suportar os efeitos da crise. Temos de trabalhar juntos", disse ele, no evento "Atitudes positivas para enfrentar a crise", promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Na teoria keynesiana de política anticíclica, os governos devem garantir superávits em tempo de bonança e investir em tempo de recessão para atenuar os seus efeitos. Para Meirelles, porém, essas medidas têm objetivos diferentes em cada país. Ele citou o pacote chinês de US$ 586 bilhões. Lá, disse ele, o problema é o reflexo da desaceleração nos Estados Unidos e na Europa nas exportações. "O programa chinês tem o objetivo de aumentar o consumo doméstico." No Brasil, compara, a situação é diferente. "O consumo interno está forte, está bem. Até setembro, a renda e o emprego apresentavam números positivos." Aqui, o problema é de liquidez, que paralisou o crédito. Há casos de países menores, mais fragilizados. "Não dá para dizer para essas nações gastarem mais. Se fizerem, quebram." Nesse caso, foram necessários aportes de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. Portanto, disse, cada país tem de olhar seus problemas específicos e fazer um planejamento adequado. "É como um doente. Precisa tratar? Sim. Precisa tomar antibióticos? Sim. Mas os remédios diferem conforme o paciente. Então, tem de haver a aplicação do remédio adequado à doença porque, entre outras coisas, o remédio tem efeito colateral." Meirelles também se referiu ao pacote americano, de cerca de US$ 800 bilhões. Para ele, os EUA estão fazendo o que todo mundo acha que é preciso fazer. "Mas o povo americano vai sair dessa crise com uma dívida maior que US$ 1 trilhão." No Brasil, ele deixou claro que as medidas tomadas até agora foram para retomar a liquidez. "Alguns acham que isso faz parte da política monetária, mas está cada vez mais claro que existe a política monetária pura, que combate a inflação e visa à estabilidade inflacionária, e a política de liquidez." Segundo ele, a política de liquidez já começa a surtir algum efeito. A queda do volume de crédito novo concedido em outubro foi pequena em relação a setembro. Ele adiantou que a redução do crédito na primeira semana do mês passado em relação ao anterior foi de 30%, mas, ao longo do mês, o volume foi sendo ampliado. Mesmo assim, essa recuperação não foi suficiente para superar os dados de setembro. De acordo com Meirelles, a diminuição de crédito para pessoa física foi "bem pequena", enquanto para as empresas foi um pouco maior. "Existe um cenário de recuperação", avaliou. Ele salientou que os impactos da crise chegam ao Brasil pelo canal do comércio e das expectativas, mas, principalmente, pelo crédito. É por isso que alguns setores, como os ligados à siderurgia, acabam sentindo mais os efeitos da crise. COLABOROU CÉLIA FROUFE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.