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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Melhora em dólares

Os resultados das contas externas continuam produzindo boas surpresas

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Atualização:

No meio de tanta notícia ruim, as contas externas continuam produzindo boas surpresas.

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As Transações Correntes (ou Conta Corrente) são as contas externas que mostram o resultado da entrada e saída de moeda estrangeira no País. Só não fazem parte desse cálculo os fluxos de capitais. A cada momento, a situação das Transações Correntes reflete as condições de saúde cambial de uma economia.

E o que se viu das contas externas é que o rombo que chegara às alturas dos US$ 104,2 bilhões em 2014, caiu quase à metade, para US$ 58,9 bilhões em 2015. Como o PIB é a renda de um país, um jeito adequado de medi-lo é em proporção a ele. É como medir a capacidade de consumo e investimento de qualquer pessoa pelo seu salário. Pois o déficit em Transações Correntes, que fora de 4,3% do PIB em 2014, caiu para 3,3% do PIB em 2015. Essa relação só não foi menor porque o próprio PIB caiu quase 4% no ano passado.

Déficit em Conta Corrente Foto: Infográficos|Estadão

Mais notável foi o resultado da conta do Investimento Estrangeiro Direto no País. Esperava-se que em 2015 não passasse dos US$ 65 bilhões e, no entanto, chegou a US$ 75,1 bilhões. Apenas em dezembro, a entrada de moeda estrangeira nessa conta foi de US$ 15,2 bilhões.

O setor externo é a primeira área importante da economia que acusa forte ajuste. Ele acontece a despeito das condições adversas do mercado global, como a desaceleração da economia da China, a fraqueza da atividade econômica na Europa e nos Estados Unidos e a derrubada dos preços das commodities, das quais o Brasil é grande produtor.

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Dois fatores estão empurrando a virada das contas externas. O primeiro é a própria recessão (queda do consumo) que afundou não só as importações de mercadorias, mas também as de serviços (transportes, seguros, viagens). O segundo é a desvalorização do real diante do dólar (de 32,86% em 2015), que barateou em moeda estrangeira o produto nacional, impulsionou as exportações e trouxe mais capitais porque o investidor estrangeiro passou a obter mais reais por dólares trazidos para cá.

A relativa saúde cambial demonstrada pelas contas externas é uma das principais características (positivas) que diferenciam a crise atual das anteriores que maltrataram a economia desde o início dos anos 80. (O outro é a saúde do sistema financeiro.) Não há fuga de capitais. Ao contrário, a entrada de dólares continua positiva. O alto estoque de reservas externas, de US$ 370 bilhões, é boa garantia para que isso não aconteça.

A melhora do setor externo não é suficiente para produzir a virada na economia brasileira – ao contrário do que alguns ministros, especialmente Miguel Rossetto, do Trabalho, vêm equivocadamente afirmando. Mas pode ajudar, desde que o governo apresse as negociações de novos acordos comerciais.

Efeito positivo não desprezível desse ajuste externo é a tração que exerce para 2016. As projeções do Banco Central são de um salto de 70% no resultado comercial, para US$ 30 bilhões; de um déficit ainda mais baixo em Transações Correntes, para 2,7% do PIB; e de entrada líquida de Investimentos Diretos no País de US$ 60 bilhões. São números que devem ser revistos para melhor ao longo do ano.

CONFIRA:

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Conta de viagens internacionais Foto: Infográficos|Estadão

Veja a evolução da conta de viagens internacionais entre 2010 e 2015.

Viajar ficou mais caro

As estatísticas de serviços mais divulgadas são as das viagens internacionais. Um aumento do déficit nessa conta reflete o dólar mais barato e uma melhora da renda. Agora, esse déficit está menor, porque a recessão e o dólar caro tornaram essas viagens proibitivas para boa parte da população. Em 2014 o déficit foi de US$ 18,7 bilhões. Em 2015, US$ 11,5 bilhões. Como 2016 será um ano ainda mais difícil, deve diminuir mais. O Banco Central projeta US$ 9 bilhões.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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