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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Melhora o saldo comercial

Os bons resultados da balança comercial do Brasil são os primeiros efeitos positivos do ajuste da economia e podem alavancar a recuperação

Foto do author Celso Ming
Atualização:

A principal diferença entre esta crise econômica do Brasil e muitas das anteriores é a quase irrelevância da deterioração das contas externas. Ao contrário, uma forte melhora nessa área tem tudo para puxar a recuperação.

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A expressiva desvalorização do real diante do dólar não reflete hoje uma grave crise cambial (escassez de moeda estrangeira). Reflete apenas a busca de proteção diante do enfraquecimento – este sim – das contas internas e da grave crise estrutural do Brasil.

As reservas externas não estão derretendo, como tantas outras vezes aconteceu. Elas estão intactas, há em estoque US$ 370 bilhões, o correspondente a mais de 24 meses de importação, aplicados em sua maior parte em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

 Foto: Infográficos/Estadão

Mais do que isso, as estatísticas apontam uma notória melhora nas contas com o exterior (Transações Correntes). No ano passado, o déficit nesse segmento, que registra entradas e saídas de moeda estrangeira com mercadorias, serviços, rendas e transferências, alcançou os US$ 90,9 bilhões, ou 4,17% do PIB, e, neste ano, não deve passar dos US$ 70 bilhões (cerca de 4% do PIB), como apontam as projeções do mercado (Pesquisa Focus). É provável que seja ainda mais baixo.

A maior parte desse déficit deverá ser coberta com entrada de investimentos estrangeiros, que podem atingir US$ 65,0 bilhões, pouco mais do que os US$ 62,5 bilhões contabilizados em 2014.

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Mas é a balança comercial que reflete mais fortemente a solidez das contas externas. Além da falta de competitividade do produto industrializado, as exportações enfrentam a derrubada dos preços das commodities (que pesam pouco menos que 50% das vendas externas) e a redução da demanda produzida pela crise internacional. Mas, apesar disso, devem fechar o ano com um resultado superior ao das importações em cerca de US$ 15 bilhões, como ainda nesta quinta-feira avançou o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, após a divulgação do desempenho da balança comercial em setembro.

O que se viu foi um saldo comercial acumulado nos nove primeiros meses do ano especialmente robusto, de US$ 10,2 bilhões. Nesse período, as exportações caíram 16,3%, mas as importações recuaram ainda mais, 22,6%. Por isso, a corrente de comércio também mergulhou, quase 20%.

Esse tombo das importações é consequência direta de dois fatores: queda do consumo interno e desvalorização do real (alta do dólar, de 50,2% neste ano), que aumentou os preços dos produtos provenientes do exterior. Item a destacar é a retração das importações de combustíveis e lubrificantes nos primeiros nove meses (- 45,9%), o que reflete tanto a queda interna do consumo quanto o aumento de produção.

Ainda que sejam consequência do tombo do PIB, que se aproxima dos 3% neste ano, os bons resultados da balança comercial são os primeiros efeitos positivos do ajuste da economia e podem alavancar a recuperação.

CONFIRA:

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Variação comércio exterior do Brasil Foto: Infográficos|Estadão

A queda das exportações do Brasil nos nove primeiros meses de 2015 alcançou todos os blocos econômicos, o que reflete especialmente a baixa das matérias-primas. Nas importações, a redução de maior impacto no setor produtivo provavelmente é a de bens de capital (máquinas e equipamentos): queda de 17,1%. Essa retração demonstra baixa disposição das empresas em investir e, portanto, em preparar-se para a retomada do crescimento econômico.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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