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‘Melhorou um lado, mas piorou outro'

Motoristas dizem que redução do diesel trouxe benefícios, mas tabela não está sendo cumprida

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz e Renée Pereira
Atualização:

O pátio da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) – onde diariamente centenas de veículos estacionam para descarregar alimentos que abastecem a capital paulista, mas que ficou completamente vazio durante a greve – é hoje cenário de reclamações e insatisfações de caminhoneiros. Todos que circulam por ali dizem que “nada mudou” desde a paralisação. Apesar de admitirem que o diesel está mais barato, afirmam serem poucas as empresas que pagam o frete de acordo com a tabela definida após o movimento. É unânime a opinião de que a greve deveria ter durado mais uns dias, pois teriam conseguido mais avanços. Nem todos acreditam, porém, que a paralisação tenha valido a pena.

Sacrifício. Gomes (centro) diz que greve não valeu a pena. Foto: Valéria Gonçalves/Estadão

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“Fiquei nove dias parado em Marabá (PA). Não tinha banheiro. Dormíamos num estádio abandonado e os fazendeiros traziam comida pra gente. (A greve) não valeu a pena. Melhorou um de um lado, mas piorou do outro”, diz o caminhoneiro Nilson Ferreira Gomes, de 38 anos – 15 deles dirigindo.

O paulistano costuma sair de Jundiaí para levar peças para a Hidrelétrica Belo Monte, no Pará. Na volta, para em Lagoa da Confusão (TO) para carregar o caminhão de melancias e entregá-las no Ceagesp, em São Paulo. São nove dias de viagem que lhe rendem R$ 12,5 mil brutos. Antes da greve, eram R$ 12,1 mil. “É muito pequena a diferença. Queria menos imposto ou um plano de saúde”, diz.

Apenas as viagens de ida de Gomes até o Pará estão sendo pagas de acordo com a tabela do frete. As de retorno continuam como antes, já que o transporte de frutas é pago por quilo. Sobre a redução do diesel, ele diz que só em São Paulo o combustível está acessível. Antes, costumava pagar R$ 3,45 o litro; agora, R$ 3,30. “Acho que não mudou nada. Em outros Estados, é muito mais caro.” O caminhoneiro admite, porém, que o diesel saía por cerca de R$ 4 no Pará até maio e, depois de junho, caiu para R$ 3,85. A redução não o satisfez, ele gostaria que o preço fosse o mesmo em todo o País.

O caminhoneiro Reginaldo de França Barros, de 61 anos, transporta cerâmica e coco. Diz que continua recebendo R$ 4 mil para uma viagem de ida e volta, mas gasta R$ 1,9 mil de combustível e pedágio – antes da greve, eram R$ 2,2 mil. Também precisa pagar as parcelas mensais do caminhão, de R$ 4,2 mil. “Tenho feito quatro dessas viagens por mês, precisaria de seis, mas não tem carga.”

O representante do Comando Nacional do Transporte (CNT), Ivar Luiz Schmidt, entende que a redução do diesel e do pedágio são grandes conquistas dos caminhoneiros e fazem diferença no bolso, mas afirma não haver efetividade da tabela do frete mínimo. “É um sonho que não se realizou. A ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) não tem efetivo para fiscalizar o setor.”

Na semana passada, o líder dos caminhoneiros Wallace Landim, conhecido como Chorão, ameaçou entrar na Justiça para obrigar a agência a fiscalizar o cumprimento da tabela de frete. “O caminhoneiro não tem condição de enfrentar as empresas sozinho; se ele denunciar, elas não dão mais frete para ele.”

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O presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, André Nasser, diz que seu setor está pagando o “preço de mercado” aos caminhoneiro, o que significa R$ 15 a menos por tonelada de grão na comparação com o valor tabelado. “A tabela é ilegal.”

Como ainda restam 29 milhões de toneladas de soja e milho para serem exportados neste ano, o setor deverá economizar R$ 435 milhões ao não pagar o valor tabelado. A constitucionalidade da tabela do frete está em discussão no Supremo Tribunal Federal. Procurada, a ANTT disse estar realizando consulta pública para regulamentar a tabela. 

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