A insistência das autoridades na política de “covid zero” vem mostrando custos crescentes para a sociedade e para a economia chinesa. A maior parte dos analistas projeta, hoje, um crescimento de 4% ou menos para este ano.
A guerra na Ucrânia está muito mais longa do que se imaginava e com riscos crescentes de atritos maiores com a Otan. Com o bloqueio dos portos ucranianos, mais de 20 milhões de toneladas de grãos não conseguem ser exportadas, o que levanta o espectro de uma grave crise alimentar em países do Oriente Médio, do norte da África e da Ásia. Este risco é acentuado porque mais de 20 países já colocaram restrições às exportações de alimentos.
Como lembrou nesses dias Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia, a crise atual não é de petróleo, mas de energia, abarcando petróleo, gás natural e carvão. A consequente alta de preços continuará afetando severamente a atividade econômica, e ainda vai demorar até ser encaminhada.
Os problemas no suprimento de energia, alimentos, componentes industriais e outras matérias-primas acabaram produzindo uma inflação que os países ocidentais não viam há muito tempo: nos últimos 12 meses, os preços ao consumidor subiram 9% na Inglaterra, 8,2% nos EUA, 7,4% na Zona do Euro e 6,8% no Canadá.
Em consequência, os bancos centrais do mundo todo começaram ou vão começar brevemente, como no caso do BCE, a elevar os juros de forma relevante, o que já está impactando as expectativas e os mercados financeiros.
Por exemplo, nos EUA, por volta do dia 20 passado, o custo de uma hipoteca de 30 anos havia subido para 5,25%. Nos mercados de crédito, os papéis de médio risco, classificados como BBB, já estavam em 1,94% e os papéis de alto risco (High Yield), próximos de 5%. E estamos falando aqui do início da trajetória de elevação da taxa básica do Fed que ainda poderá ir até 3,5%.
O aperto da política monetária vai levar à redução da atividade econômica por pelo menos três caminhos, como é usual: piora das expectativas, deterioração das condições financeiras (e por aí até insolvências e o mercado de trabalho) e perda de riqueza decorrente da queda de valor dos ativos de maior risco, já em pleno andamento.
Entre o começo do ano e o dia 25 de maio, as ações da Nasdaq (onde se concentram as empresas de tecnologia) haviam caído 28% e a bitcoin (a mais conhecida das criptomoedas) tinha perdido mais de 35% do seu valor.
O último mercado que deverá ser afetado é o de imóveis, como já ocorreu na crise anterior.
Tudo indica que o mundo caminha para a recessão.