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Mendonça de Barros questiona números do PIB

Por Agencia Estado
Atualização:

Ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros considera que o PIB brasileiro não cresceu nos últimos meses às taxas propaladas pelo governo, com base em levantamento do IBGE. Entrevistado no programa Conta Corrente, da Globo News, ele explicou que isso se deve ao fato de o órgão ter mudado a série de produção industrial que acompanha todos os meses. "Só que essa mudança foi revisada agora, em 2004, e o IBGE manteve no PIB de 2003 essa mentira. Quando você pega o PIB do primeiro trimestre deste ano e compara com o do ano passado, dá essa distorção pois se está usando duas sérias diferentes. O meu número é que o PIB do primeiro trimestre deste ano cresceu 1% em relação ao último trimestre do ano passado, e não 1,6% como apareceu na estatística do IBGE." Mas ele não nega que a economia vá crescer este ano, especialmente no setor industrial. Recuperação cíclica "Nós vamos ter um crescimento este ano de 3%, 3,5% - vamos pegar 3,5% que é um número mais consensual -, só que esses 3,5% é um crescimento sobre uma base muita baixa do ano passado, negativa". Para Mendonça de Barros, o que interessa na economia é a taxa média de crescimento por um prazo mais longo. E explicou: "A discussão hoje é que existem os otimistas dizendo que a economia está em boom, há uma expansão continuada. Eu fico com aqueles analistas que são um pouco mais cautelosos em nossas observações. Por exemplo, o investimento na economia está ainda muito baixo. O que estamos tendo é uma recuperação cíclica da recessão do ano passado. É evidente que o investimento só virá depois dessa recuperação cíclica. Estamos melhorando? Estamos melhorando, mas não é esse sonho dourado que muitas pessoas tentam vender à opinião pública." O fator exportações Mendonça de Barros considerou que o momento é favorável no comércio internacional e que não são apenas as exportações brasileiras que cresceram. Citou como exemplo a Índia e o Japão, onde o volume exportado está crescendo cerca de 40% ao ano. "Há um grande crescimento no comércio internacional e nós estamos pegando uma carona nisso aí. Acontece é que nós estamos desviando parte da produção interna para exportação. Não estamos adicionando nova capacidade de produção. Na medida em que houver uma reativação, como está havendo no consumo, nós vamos começar um período em que produtos irão faltar. O produto que era vendido há dois anos para o consumidor brasileiro agora está sendo desviado para exportação. Este é um dos problemas que está por trás da aceleração da inflação?. Por que o País não cresce Para o ex-ministro de FHC, a economia brasileira não cresce por dois fatores. O primeiro é em razão da enorme dívida pública, o que faz com que as taxas de juros no Brasil sejam absurdamente elevadas. "É o único país do mundo em que o dinheiro de um dia rende 10% reais; imagine o dinheiro de seis meses, um ano!". O segundo fator é que, para resolver essa dívida, o governo é obrigado a ter um superávit primário muito grande, o que explica a forte carga tributária. "Juros e impostos muito elevados fazem que com o dinamismo da economia interna desapareça. Por isso, a nossa dependência em relação à exportação." Popularidade de Lula Sobre a queda nos índices de popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, segundo revelaram as últimas pesquisas Ibope e Sensus-CNT, Mendonça de Barros declarou: "Eu não votei no Lula. Então, não faço parte deste grupo que está decepcionado com o governo. O que estamos vendo é o resultado de um ano e seis meses em que a economia, a vida do cidadão, o salário, o emprego não se modificaram em relação à situação que antecedeu as eleições. Como o presidente Lula fez toda a sua campanha prometendo mudanças radicais, soluções inovadoras, essa decepção reflete o fato de que nada mudou."

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