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Jornalista e comentarista de economia

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O desempenho da indústria é desastre anunciado cujas causas são os graves erros de política econômica adotados ao longo do primeiro período Dilma

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Atualização:

Bem menos. A produção industrial caiu 1,3% em setembro (sobre agosto); 7,4% nos nove primeiros meses do ano (sobre igual período de 2014); e 6,5% nos 12 últimos meses. E, pior, nada aponta para uma recuperação nem neste ano nem em 2016.

É desastre anunciado cujas causas são os graves erros de política econômica adotados ao longo do primeiro período Dilma, os mesmos que foram denominados pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, de Nova Matriz Macroeconômica. Pretenderam catapultar a demanda com despesas públicas, preços e tarifas represados, crédito fácil, juros derrubados na marra e consumo subsidiado. Apesar dos seguidos pacotes de bondade, a produção ficou para trás e, hoje, simplesmente segue afundando. 

 Foto: Infográficos/Estadão

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A indústria de veículos foi o setor mais beneficiado pelo governo nos últimos anos. Obteve redução de impostos, desonerações, reservas de mercado, tratamento especial ao comprador dos seus produtos e, no entanto, acumula queda de 24,2% em unidades vendidas este ano, como mostram as estatísticas da Fenabrave. Essa prostração é responsável por mais de 50% do mau desempenho de toda a indústria em setembro.

O governo não é o único culpado. Apesar das lamúrias, os dirigentes da indústria e os empresários de maneira geral têm parte nesse desastre porque deitaram lobby e louvação a cada pacote, inclusive na derrubada forçada das tarifas de energia elétrica. Insistiram na retórica dos juros rastejantes e no câmbio desvalorizado, sem levar em conta que juros e câmbio estão fora do lugar porque as contas públicas ficaram desarrumadas.

Com raras exceções, apoiaram a política comercial protecionista que deixou o Brasil isolado e prostrado nos acordos internacionais que garantem preferência aos signatários e omitiram-se diante da esquisita política externa bolivariana seguida pelo País.

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Ainda agora, por exemplo, além de repelir o inescapável regime de austeridade determinado pelo ajuste fiscal que devolveria confiança à economia e impulsionaria os investimentos, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, segue pedindo a cabeça do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Nisso, alia-se aos segmentos mais retrógrados das esquerdas brasileiras e da base aliada, que pedem a repetição das coisas raras geradas pela administração Mantega/Augustin e que, não por coincidência, afundaram a indústria. Parece ignorar que, sem fundamentos em ordem, é impossível recuperar a indústria e garantir crescimento sustentável.

Em outras palavras, a indústria baqueia não porque a demanda fraqueja, mas porque tanto ela como a demanda foram estimuladas artificialmente, num ambiente em deterioração determinado pelo fim do ciclo de grande expansão do mercado de commodities e pelas opções equivocadas de política econômica. O desempenho da indústria e a incerteza política no processo de saneamento das contas públicas seguem puxando para baixo a atividade econômica. É o que autoriza a esperar uma retração do PIB em 2015 superior a 3% e um repeteco de quase isso em 2016. Nesses tombos sucessivos, a indústria tende a perder ainda mais participação na renda nacional.

CONFIRA:

 Foto: Infográficos/Estadão

Os preços do petróleo continuam voláteis, como mostra o gráfico acima.

O complicado das domésticas Só nesta quarta, depois de quatro dias de instabilidade e mau funcionamento do Simples Doméstico, o governo reconheceu que o site colocado no ar pelo Serpro é impraticável. É como autorizar o embarque em avião que só excepcionalmente levanta voo. Mas não basta prorrogar a cobrança da contribuição, comoanunciou o ministro Joaquim Levy nesta quarta. É preciso entender por que apareceu tanto problema num programa que deveria ser descomplicado.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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