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O Futuro dos Negócios

Opinião|Menos palavras, mais ações

A urgência por prazos e medidas concretas para salvar o mundo da crise climática: o grande tema da COP-26

Atualização:

O inventor e engenheiro norte-americano Charles Kettering (1876-1958) foi responsável pela área de pesquisa da General Motors por mais de 25 anos. Detentor de quase duzentas patentes, ele dizia que “um problema bem formulado é um problema meio resolvido.” Isso é particularmente relevante quando lidamos com questões complexas, como a crise climática na qual o planeta está mergulhado e cuja gravidade vem aumentando sistematicamente.

G-20 indicou seu compromisso para reduzir de forma significativa as emissões de gases do efeito estufa, embora sem indicar prazos. Foto: Yves Herman/ Reuters

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Conforme vimos na coluna passada, com a queda do preço da energia renovável e a estabilidade do custo de geração de eletricidade através de combustíveis fósseis, abrem-se possibilidades atraentes para o futuro: primeiro, criam-se as condições para o aumento de investimentos em fontes renováveis, que por sua vez irão gerar eletricidade limpa — beneficiando o meio ambiente. E segundo, com a queda no custo da energia gerada, será possível ampliar a oferta para um número maior de usuários.

Esses fatores, aliados à utilização de processadores poderosos a um custo acessível, armazenamento praticamente ilimitado de dados, comunicação instantânea com virtualmente qualquer parte do mundo, desenvolvimento de novos materiais e melhor entendimento das leis da Natureza contribuem para o interesse e o desenvolvimento das chamadas cleantechs — empresas que atuam nas áreas de proteção do meio ambiente, sustentabilidade ou aumentos de eficiência na geração, transmissão ou armazenamento de energia.

Um ponto de partida razoável para essas empresas é o entendimento dos setores que são responsáveis pela emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Globalmente, o setor de energia sozinho é responsável por mais da metade das emissões de dióxido de carbono e cerca de um terço das emissões de metano; o setor agrícola emite cerca de 50% do metano e 70% do óxido nitroso. Nos Estados Unidos, de acordo com a EPA (Environmental Protection Agency, ou Agência de Proteção Ambiental), em 2018 os segmentos responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa foram transporte (28,2%, principalmente devido aos combustíveis derivados do petróleo), eletricidade (26,9%, com quase dois terços da geração proveniente de combustíveis fósseis), indústria (22%), comercial e residencial (12,3%, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis para aquecimento), e agropecuária (9,9%, em grande parte devido à pecuária). As florestas compensam isso em 11,6%, absorvendo mais dióxido de carbono do que produzem.

Outro ponto importante para as cleantechs, além do entendimento dos setores que são responsáveis pela emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, está ligado à forma como os países contribuem como parte da solução ou como parte do problema. Segundo o Banco de Dados de Emissões para Pesquisa Atmosférica Global (EDGAR - Emissions Database for Global Atmospheric Research), um projeto conjunto da Comissão Europeia e da Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, em 2018, das 38 bilhões de toneladas métricas de CO2 emitidas — contra apenas 2 bilhões emitidas em 1900 — a China foi responsável por 11,2 bilhões e os Estados Unidos por 5,3 bilhões. Qualquer dúvida sobre o efeito da industrialização sobre a qualidade da atmosfera pode ser rapidamente descartada ao se observar a concentração de longo prazo de dióxido de carbono em partes por milhão (ppm): até a Primeira Revolução Industrial, esse número tinha se mantido estável em torno de 270 ppm; em 2018, já havíamos ultrapassado 400 ppm.

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O Índice de Desempenho das Mudanças Climáticas (CCPI) (publicado anualmente pela Germanwatch, pelo NewClimate Institute e pela Climate Action Network) analisa o perfil dos países responsáveis por mais de 90% das emissões que causam o efeito estufa. Quatro critérios são usados na composição do índice: volume de emissões (40%), energia renovável (20%), uso de energia (20%) e políticas climáticas (20%). No índice de 2021, de um grupo de 57 países (incluindo o bloco da União Europeia), o país com a melhor classificação foi a Suécia, seguido pelo Reino Unido, Dinamarca e Marrocos. Os piores países classificados foram o Irã, Arábia Saudita e Estados Unidos. O Brasil ficou na 25a posição.

Na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-26), o G-20 — grupo que reúne as maiores economias do mundo e do qual o Brasil faz parte — indicou seu compromisso para reduzir de forma significativa as emissões de gases do efeito estufa, embora sem indicar prazos. O tema, que exige a maior urgência possível tanto de governos quanto de empresas, segue como nosso assunto da próxima coluna. Até lá.

*FUNDADOR DA GRIDS CAPITAL E AUTOR DO LIVRO "FUTURO PRESENTE - O MUNDO MOVIDO À TECNOLOGIA", VENCEDOR DO PRÊMIO JABUTI 2020 NA CATEGORIA CIÊNCIAS. É ENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E MESTRE EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Opinião por Guy Perelmuter
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