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Mercado confia na valorização do real, mas até onde ela vai?

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Por Silvio Cascione
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A "disposição" do dólar em romper pisos neste ano deixou o mercado com um pé atrás para cravar até onde vai a valorização do real. Uma aposta, no entanto, é generalizada: a moeda norte-americana cairá ainda mais. "Este ano acho que fecha em torno de 1,75, 1,70 (real por dólar). Mas pode aprofundar a queda até a metade de 2008, se o cenário atual for preservado até lá", acredita Alex Agostini, economista-chefe da consultoria Austin Rating. Nesta semana, o dólar chegou a fechar abaixo de 1,80 real --no menor nível em sete anos. O patamar é bem inferior às projeções feitas há menos de um ano. Na abertura de 2007, por exemplo, a pesquisa semanal do Banco Central junto ao mercado apontava dólar a 2,25 reais em dezembro. Por trás da queda de cerca de 16 por cento do dólar este ano está a entrada líquida recorde de 71,3 bilhões de dólares no Brasil até o começo de outubro. Em todo o ano passado, o fluxo cambial positivo não ultrapassou 38 bilhões de dólares. A chuva de dinheiro rareou apenas no início do segundo semestre, com a crise global de crédito. "Hoje há forças que tendem a manter esse movimento (da queda) do dólar. Tem a alta dos preços das commodities, que ajuda na balança comercial, e o próprio comportamento dos mercados operando o diferencial de juro", disse Antonio Madeira, economista-chefe da MCM Consultores. O diferencial entre o juro no Brasil e no exterior tende a aumentar até o final do ano com a pausa no ciclo de cortes da Selic. Segundo analistas, essa notícia foi a responsável pela quebra do patamar de 1,80 real na última quinta-feira. Além disso, a perspectiva de mais uma redução do juro nos Estados Unidos no final de outubro favorece a aposta na queda do dólar em todo o mundo, já que o menor rendimento torna os ativos norte-americanos menos atrativos. "RENDIMENTO COM SEGURANÇA" O próprio diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, declarou nesta semana que o dólar pode cair ainda mais, apesar dos recordes registrados ante o euro. "Só isso já é um fator importante para a valorização do real. A gente fica como espectador desse cenário", comentou Leonardo Miceli, economista da Tendências Consultoria. A iminência do grau de investimento também interfere a favor da queda do dólar. Para Agostini, da Austin Rating, o mercado já antecipa a promoção do país, que deve vir entre o final de 2007 e o próximo ano. "Hoje você não tem outros mercados que paguem o que o Brasil paga de retorno com a segurança que o Brasil dá". Se a queda parece inevitável, então o dólar a 1,50 real já pode ser visto no horizonte? Ninguém arrisca. Com todas as projeções para o ano frustradas até agora, os analistas preferem manter a cautela e apontam fatores que podem equilibrar o câmbio. "O que impõe limite é o risco-país, e ele tem se mantido estável após a crise de crédito imobiliário", acrescentou Miceli. Na sexta-feira, o risco medido pelo JP Morgan estava em torno de 175 pontos-básicos, após ter atingido a mínima histórica de 135 pontos em maio. Alex Agostini cita outro fator. "Sazonalmente, no final de ano as empresas enviam remessas de lucros para o exterior por conta do (fim do) ano fiscal. Mas não é nada que vai reverter, ou que faça voltar para 1,90 (real)", ponderou. Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, lembra também que os leilões de compra do BC atuam como um freio. "A ação do BC, embora não consiga dar suficiente suporte ao preço, tem o potencial de retardar, tornar mais lenta, a apreciação do real", avaliou em relatório. O mercado também evita dar números para a queda do dólar por conta de um possível agravamento da crise no exterior. "Esse é um chute que eu não quero fazer. Tenho certeza de que vai cair, mas o quanto e com que velocidade... não sei", disse Mario Battistel, gerente da Fair Corretora.

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