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Mercado diverge sobre futuro corte da Selic

Não é mais consenso que, na próxima reunião do Copom, o BC decida reduzir de novo a Selic. Os mais cautelosos dizem que o BC deve aguardar dados consolidados sobre os efeitos da desaceleração da economia dos EUA nos países emergentes.

Por Agencia Estado
Atualização:

O temor de que o FED, o banco central norte-americano, não consiga impedir uma recessão nos Estados Unidos pôs fim à unanimidade entre os analistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai cortar a taxa Selic na reunião dos dias 13 e 14. Agora, já há quem entenda que o melhor é esperar para ver qual será o impacto da desaceleração americana sobre os países emergentes. Apesar disso, boa parte dos analistas continua apostando que a queda de juros dos EUA abre espaço para o Copom reduzir mais uma vez a Selic, que hoje está em 15,25% ao ano. O economista-chefe do BBV Banco, Octávio de Barros, faz parte do time dos cautelosos. Ele ressalta que os sinais exibidos pela economia americana são os "piores possíveis". Por isso, é melhor esperar até a próxima reunião do FED quando se terá dados mais consistentes sobre o tamanho da desaceleração da economia dos EUA e os desdobramentos para países emergentes. O economista-chefe do Banco Inter American Express, Marcelo Allain, também pede cautela, e diz que o Copom precisa analisar a reação da economia brasileira ao corte de 1,25 ponto porcentual realizado desde dezembro na taxa Selic. Allain também ressalta os números da balança comercial, que registrou déficit de US$ 479 milhões em janeiro, como fator importante a ser observado pelo BC antes de tomar uma decisão mais ousada. Os otimistas O economista-chefe do Indosuez W.I. Carr Securities, Alexandre Schwartsman, por sua vez, faz parte do time dos otimistas. Ele entende que o Brasil não será tão prejudicado pelo desaceleração americana, uma vez que as exportações brasileiras para os Estados Unidos equivalem a apenas 2% do PIB. Além disso, o desaquecimento americano diminui a demanda por petróleo, levando à queda dos preços do produto, o que é positivo para o Brasil. E a redução dos juros pelo Fed é amplamente favorável ao País, que, além de ser muito endividado, precisa continuar captando recursos para fechar suas contas externas. Como não há pressões inflacionárias, ele aposta que o Copom vai cortar os juros. A dúvida é se a redução será de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual. O estrategista de mercado do JP Morgan, Luís Fernando Lopes, também acredita numa redução da Selic pelo Copom. A queda dos juros nos EUA justifica um corte de 0,5 ponto, para manter o diferencial entre as taxas interna e externa no mesmo nível. O diretor-presidente da consultoria MCM, Cláudio Adilson Gonçalez, entende que o cenário externo permite uma baixa de até 0,5 ponto na Selic. Para ele, desde que a desaceleração americana não seja acompanhada de uma crise de crédito, o Brasil vai sair relativamente ileso desse processo. O problema, diz ele, é que surgiram fatores no cenário interno que poderão levar o Copom a ser mais prudente. O primeiro é a crise política envolvendo a base de sustentação política do governo, em decorrência da disputa pelo comando da Câmara e do Senado, que deve arrastar-se até o dia 14. A questão é que isso afeta a percepção do risco Brasil. Outro problema é o fraco desempenho da balança comercial, que também pode atingir o risco Brasil. Gonçalez lembra, por fim, que os juros das operações de um ano já caíram muito nas últimas semanas - desde o começo de dezembro, caíram de 18,5% para 15,5% ao ano. E são essas taxas que são as mais importantes para definir investimentos e financiamentos. Uma queda mais expressiva desses juros poderia aumentar ainda mais a atividade econômica, que já está bastante acelerada. Com isso, Gonçalez acredita que o Copom será menos ousado, e vai reduzir a Selic em apenas 0,25 ponto.

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