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Mercado muda e agora prevê alta do juro

Após declarações de Mantega e de Tombini, pelo menos 35 das 65 casas que previam estabilidade na sondagem anterior agora apostam em alta 

Por Denise Abarca , Flavio Leonel , Maria Regina Silva e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

As declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na sexta-feira, reduziram sensivelmente as apostas do mercado financeiro na manutenção da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que nesta quarta-feira decide sobre o futuro da taxa básica, atualmente em 7,25% ao ano. 

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Diante das várias mudanças de última hora na expectativa dos agentes para o encontro, o AE Projeções consultou novamente as instituições que esperavam estabilidade do juro na pesquisa publicada quinta-feira. O resultado foi uma verdadeira debandada para a corrente dos que preveem alta da Selic em abril.

O serviço especializado do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ouviu ontem 61 das 63 casas que previam estabilidade na sondagem anterior, e apenas 26 delas mantiveram sua projeção, o que significa que pelo menos 35 migraram para a aposta de elevação. Apenas a Concórdia Corretora e a Squanto Invest não participaram do levantamento desta segunda-feira. Do grupo de 36 casas que agora estimam aperto monetário já este mês, 19 acreditam em alta de 0,25 ponto porcentual para 7,5%, e 16, em elevação de 0,5 ponto, para 7,75%.

Nenhum dos indicadores macroeconômicos relevantes conhecidos foram apontados como motivação para as alterações, mas sim a leitura da fala de Tombini, reforçada pela interpretação das palavras do ministro Mantega, é que deu a senha para levar parte do mercado à postura mais conservadora.

O presidente do Banco Central, na 25.ª Reunião de Presidentes de Bancos Centrais da América do Sul, no Rio, declarou que "não há nem haverá tolerância com a inflação". "Estamos neste momento monitorando atentamente todos os indicadores e, obviamente, no futuro, vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária", afirmou Tombini, durante intervalo do evento.

Ainda na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, em entrevista exclusiva ao Estado publicada no domingo, que, se for preciso elevar os juros, "não é necessário um tiro de canhão, pode ser de metralhadora". Ele frisou que isso ocorrerá apenas "se precisar".

Entre os que mudaram de opinião está o economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos. Ele alterou sua projeção de estabilidade, para alta de 0,5 ponto porcentual, com a Selic em 7,75% em abril. "Alterei em razão da mudança no tom das declarações do presidente do Banco Central e do ministro Guido Mantega. Devem elevar o juro, independentemente da vontade do governo de não mexer, pois a pressão inflacionária é grande", justificou ele, que agora espera Selic fechando 2013 em 8,5% e não mais em 8%.

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O Itaú Unibanco também saiu da corrente dos que apostavam em manutenção, e agora prevê alta de 0,25 ponto. Em relatório enviado a clientes e à imprensa, o banco destacou as declarações de Tombini. "No passado, a colocação de palavras como ‘monitorar atentamente’ na comunicação do BC significava que uma elevação do juro ocorreria no encontro seguinte. Portanto, Tombini sinalizou que um ciclo de aperto começará esta semana."

Entre os que mantiveram a aposta de 7,25%, está o Bradesco. "O argumento preponderante para essa decisão (estabilidade) deverá ser, a nosso ver, a manutenção do quadro de incertezas remanescentes que tem sido apontado pelo Banco Central em seus últimos comunicados. Avaliamos que, do último encontro do colegiado para cá, esse quadro não foi alterado de forma significativa, motivo pelo qual a postura ‘cautelosa’ deverá ser mantida na condução da política monetária", avaliou o diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros. 

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