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Mercado norte-americano acorda para risco de fraudes

Por Agencia Estado
Atualização:

A divulgação recente de dados animadores sobre a economia norte-americana não tem sido suficiente para reverter o temor que se instalou no mercado acionário do país após a fraude contábil da Enron. Uma frase divulgada nesta quinta-feira pela Moody´s ilustra bem o tamanho do problema: "A confiança dos consumidores pode estar em alta, mas a dos investidores está em baixa", comentou a agência em relatório. Analistas consultados pela Agência Estado dizem que ainda é prematuro provar que outras empresas também fraudaram balanços ou aproveitaram-se de brechas na regulamentação contábil norte-americana (US Gaap) para incharem os resultados. A suspeita de que isso tenha ocorrido, no entanto, já está instalada. E uma confirmação ou não, como lembra o estrategista de renda variável do J.P. Morgan, Pedro Martins, só acontecerá depois de o fato acontecer. "É algo difícil de se avaliar agora, a não ser que se faça um gigantesco escrutínio das empresas que auditam os balanços", disse Martins. "No curtíssimo prazo, o mercado vai monitorar muito atentamente se a Enron é um caso isolado ou se há mesmo uma fragilidade no US Gaap, que é hoje um sistema contábil de referência para o mundo inteiro. Se for o segundo caso, todos os investimentos que levam em conta informações contábeis terão seu risco aumentado, especialmente nas bolsas, criando uma aversão ainda difícil de se avaliar", acrescenta. Ainda que não confirmadas, as suspeitas já trazem alguns efeitos práticos, além do comportamento cauteloso no mercado. As empresas de auditoria estão sob forte pressão, algumas companhias vêm anunciando a revisão dos balanços e toma forma um movimento inicial de migração da renda variável para a fixa, que os analistas preferem ainda não confirmar como uma tendência. "Seria necessária uma série mais longa desses fluxos para se confirmar uma tendência, pois trata-se de um indicador muito volátil", disse o estrategista chefe para a América Latina do Deutsche Bank, Renato Grandmont. Para os analistas, outro efeito da desconfiança criada pela Enron pode estar na necessidade de mudanças estruturais nas normas de demonstração contábil previstas no US Gaap, um padrão respeitado no mercado financeiro global por conta do alto grau de transparência e de confiança aos investidores. "O fato de grandes empresas estarem envolvidas em suspeitas de fraude pode levar a grandes mudanças não só em termos de contabilidade e auditoria, mas também do relacionamento entre as companhias e os auditores, da relação com a Securitie Exchanges Comission (SEC), a CVM norte-americana", disse o estrategista do Deutsche Bank. "Está havendo uma perda de confiança nas empresas menos transparentes em suas demonstrações financeiras ou que não tenham diretores independentes", acrescenta o estrategista, lembrando ainda da importância crescente que os investidores estão dando às práticas de governança corporativa após o caso Enron. A expectativa majoritária dos analistas é que a regulamentação contábil norte-americana fique mais rígida, o que naturalmente trará reflexos para as empresas e para as regras contábeis de todos os mercados no mundo.

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