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Mercado revê 'bolha' da mídia social após euforia

O preço de compra das ações do Facebook e de outros sites sociais está inferior ao que era negociado há um ano

Por JAMES B. STEWART
Atualização:

Com as ações do Facebook fechando na sexta-feira em pouco mais da metade de seu preço de oferecimento em maio, ninguém mais está falando de uma "bolha" da mídia social. Há apenas um ano, a mídia social parecia o próximo sucesso estrondoso. Com o crescimento dos usuários do Twitter, do Zynga e, especialmente, do Facebook, os investidores ficaram eufóricos com os sites da internet que conectavam pessoas com interesses e experiências comuns.O LinkedIn, site com base profissional, foi o primeiro a testar o apetite do público quando abriu seu capital em maio de 2011. Suas ações mais do que dobraram para fechar em US$ 94,25 após chegarem a ser negociadas a US$ 122,70 no primeiro dia.Os primeiros investidores ficaram exultantes, mas outros, como o ex-secretário do Tesouro Lawrence H. Summers fizeram advertências. "Quem poderia imaginar que a preocupação com respeito a algum ativo financeiro americano, apenas dois anos após a crise, seria uma bolha?" perguntou Summers, na época.Ninguém está falando em bolha agora. No ano passado, empresas de internet como Groupon, Zynga e Yelp fizeram suas estreias em bolsa. O Facebook veio em seguida, em maio, com US$ 38 por ação, o que conferiu a uma empresa pública recém-criada um valor de quase US$ 105 bilhões. De lá para cá, a euforia cedeu lugar a uma crescente ansiedade. O Facebook não fechou acima de US$ 38 desde então. A oferta inicial foi amplamente considerada um fiasco tanto por falhas técnicas da operação como pela necessidade de os subscritores sustentarem a ação.O declínio posterior das ações se acelerou depois que o primeiro relatório financeiro da companhia como empresa pública, no fim do mês passado, esfriou as esperanças dos investidores em um tórrido crescimento.A última semana marcou o fim do período de retenção obrigatória que impedia os antigos proprietários de ações de vendê-las imediatamente, e a cotação do Facebook atingiu um novo ponto mais baixo, caindo para menos de US$ 20 a ação.Resultado pior. Outras empresas de mídia social tiveram um desempenho ainda pior. Como o Facebook, o site de cupons de descontos na internet Groupon aumentou o preço de oferta e o número de ações pouco antes de sua estreia pública em novembro. Após rejeitar uma proposta de compra por US$ 6 bilhões do Google, em dezembro de 2010, as ações do Groupon fecharam em US$ 26,11 em seu primeiro dia de trading, acima do preço de oferta de US$ 20, o que lhe conferiu um valor de mercado de US$ 13 bilhões. As ações vêm descendo a ladeira desde então. Na última semana, elas estavam em torno de US$ 5, uma queda de 75% sobre o preço de oferecimento. A Zynga, uma empresa que trabalha com jogos sociais online, abriu seu capital em dezembro a US$ 10 e perdeu 5% de seu valor no primeiro dia. Embora ela tenha sido negociada acima de US$ 14 por ação em março, na semana passada estava abaixo de US$ 3, uma queda de 70%. Mesmo os sites de mídia social que melhor se saíram viram suas ações estagnarem. As ações do Yelp, que subiram 64% em seu primeiro dia de trading em março para fechar em US$ 23, estavam em US$ 22 na semana passada. E o LinkedIn jamais atingiu novamente o pico alcançado na abertura e estava sendo negociado perto de US$ 102 na semana passada.Twitter e Living Social estão segurando sua abertura de capital. As companhias informaram recentemente que não têm pressa, o que é bastante compreensível. O que deu errado? Cada companhia tem sua própria história, mas a euforia com as empresas de mídia social estava centrada no que economistas chamam de efeito rede. Quanto mais usuários um site atrai, mais outros querem usá-lo, o que cria um monopólio natural e um ímã para anunciantes.Mas as evidências de que o efeito rede está operando requer um rápido crescimento de usuários e receita, especialmente durante os estágios iniciais da vida pública de uma empresa. Por enquanto, a mídia social não conseguiu oferecer o tipo de crescimento que alimentaria o otimismo do investidor.Os resultados do Groupon apresentados na semana passada ilustram o problema das companhias de mídia social. Em teoria, o Groupon deveria se beneficiar do efeito rede. Quanto mais usuários ele atrai, mais comerciantes desejarão oferecer cupons via o Groupon, e vice-versa. E diante disso, o relatório financeiro pareceu bom. O Groupon realizou um lucro de US$ 28,4 milhões no trimestre, acima das expectativas dos analistas, revertendo um prejuízo de um ano atrás. O presidente executivo da empresa, Andrew Mason, considerou o resultado um "trimestre sólido".Mas é o crescimento e não o lucro que importa no estágio inicial da vida de uma empresa de rede na internet. O Groupon informou que sua receita cresceu 45% sobre o mesmo trimestre do ano passado. Mas ele computa os pagamentos que repassa aos comerciantes como parte de sua receita. Quando essa parte da receita é excluída, o faturamento cresceu apenas 30%. E, comparada com a do trimestre anterior, a receita cresceu apenas 1,6%.O crescimento de seu negócio principal com cupons caiu 7% em relação a um ano atrás. Um efeito de rede positivo também deveria supostamente excluir competidores, mas o Groupon sofreu muito com a percepção de que ele é vulnerável à competição. O mercado de leilões online é dominado pelo eBay, por exemplo, mas muitos comerciantes oferecem cupons. O Amazon comprou uma participação de 29% num site rival de cupons, Living Social. O Google introduziu suas próprias ofertas após ser rejeitado pelo Groupon. Hoje, eles são tantos que até surgiram sites para ajudar os consumidores a escolher um deles. Um desses, localdealsites.com, listou 167 sites quando eu o consultei, na semana passada, embora muitos tenham um alcance bem menor que o Groupon. O Living Social se meteu em seus próprios problemas. Apesar de o Living Social ser privado, a Amazon precisa divulgar detalhes financeiros em razão de sua grande participação acionária. No mês passado, a Amazon informou ter dado baixa de US$ 28 milhões em valor contábil do Living Social, e que este havia registrado um prejuízo de US$ 93 milhões no trimestre que terminou em 30 de junho.O Facebook enfrentou um revés parecido como decorrência das altas expectativas que criou. Em seu primeiro relatório financeiro, reportou um crescimento de 32% na receita sobre um ano antes e quase 1 bilhão de usuários em todo o mundo. Mas apesar de os 32% terem superado as estimativas de analistas, não foram o crescimento de três dígitos que muitos investidores esperavam. E embora o número de usuários mensais ativos atinja 955 milhões, a cifra foi apenas 29% maior que a de um ano antes. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK.

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