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Mercado teme que taxa de juro de 1 dígito dure pouco

Risco de mudança na atual política econômica, após as eleições de 2011, pode influir no rumo da Selic

Por Fabio Graner
Atualização:

Com mais uma redução da taxa Selic, na semana que vem, o Copom deve colocar os juros brasileiros numa nova taxa mínima histórica e na casa de um dígito. O novo nível da Selic, permitido e exigido pela crise financeira internacional, faz os economistas do governo e do setor privado perguntarem se esses juros vieram para ficar ou retornarão aos níveis de antes da crise. No governo, apesar de algumas ressalvas, a resposta é sim. No mercado, há mais dúvidas, embora a maioria também concorde que a tendência é que o Brasil vai mesmo conviver com juros mais baixos. "O Brasil tem plenas condições de permanecer com juros reais entre 5% e 6% ao ano. Hoje estão um pouco abaixo disso", disse uma fonte da equipe econômica, lembrando que antes da crise os juros estavam, em média, no nível de 7%. No entanto, o fato de a crise ter propiciado à economia brasileira um novo nível de taxa de juros não implica dizer que a Selic não voltará a subir. "Há uma chance grande de os juros terem que subir um pouco no fim de 2010, com a retomada da atividade econômica. Até por isso, o BC precisa aproveitar ao máximo o espaço que tem agora para cortar a Selic", avalia essa fonte, embora alguns assessores façam a ressalva de que, para os juros subirem, a economia terá de estar em um ritmo de crescimento extremamente forte. Apesar de ser factível que a economia tenha alcançado um novo nível de juros, há um importante fator que deve ser considerado pelo seu potencial de influir no cenário macroeconômico: o risco político. Na avaliação de uma importante fonte do governo, uma mudança nos pilares da atual política econômica, a partir de 2011, poderia elevar as expectativas de inflação e também dos juros. Essa fonte se refere explicitamente à estratégia de política econômica defendida pelo governador de São Paulo e provável candidato do PSDB à Presidência, José Serra. É atribuído ao governador a proposta de trabalhar com juros muito baixos e taxa de câmbio desvalorizada, política classificada de modo argentino. "Se o Serra fizer o que está falando, o Brasil vai voltar a ter inflação elevada, o que vai provocar juros mais altos", disse. "Eliminado esse tipo de risco e considerando-se condições normais de temperatura e pressão, com a continuidade da política atual, dá para o País continuar com juros de um dígito", acrescentou o integrante da equipe quando lembrou que prevalece a tendência estrutural de redução na taxa de juros nos últimos anos. Para o ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, o novo nível de juros real tende a permanecer. "A não ser que se tenha um processo inflacionário forte nos Estados Unidos que leve o Fed (o BC americano) a subir juros, provocando uma forte fuga de capitais. Fora isso, não há justificativa técnica para os juros voltarem ao nível anterior. A mudança no nível de juros se deve à cada vez maior solvência do País." O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que há um componente conjuntural muito forte no atual nível de juros. Por isso, é de se esperar que, quando a economia brasileira retomar seu fôlego e crescer, os juros subam. Mas ele explica que essa subida tende a ser em intensidade menor do que nos apertos anteriores, o que revela que, de qualquer forma, o Brasil deve sair da crise com um nível menor de juros do que quando entrou. "O que temos visto nos últimos anos é que o pico de subida dos juros é cada vez menor. Gradualmente, a estrutura de juros vai para patamar mais razoável." A economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, avalia que qualquer palpite sobre se o Brasil alcançou um novo nível de juros é "achômetro". "Estimar o que seria um juro de equilíbrio no Brasil é difícil, pois a economia teve muitas mudanças estruturais e, algumas vezes, a Selic subiu por conta de choques", afirmou Zeina. Ela tem a "percepção" de que o juro real está um pouco abaixo do equilíbrio. "Aparentemente, uma parte dessa queda é transitória, mas se a Selic voltar a subir, o movimento não deve ser muito forte."

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