PUBLICIDADE

Publicidade

Mercado volta a desafiar Banco Central

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de uma breve trégua desde sexta-feira, o mercado voltou a desafiar o Banco Central (BC) nesta terça-feira, produzindo uma tarde de muito nervosismo que levou as cotações dos ativos brasileiros para níveis que não eram registrados desde os meses posteriores aos ataques terroristas de 11 setembro nos Estados Unidos. Temores de que o governo federal tenha dificuldade em rolar US$ 2,354 bilhões de títulos cambiais que vencem na semana que vem somaram-se a boatos de que uma agência de análise de risco está prestes a rebaixar a classificação de crédito do Brasil. O dólar subiu 2,88% hoje, encerrando o dia cotado a R$ 2,712 e a Bovespa caiu 3,08%. Os juros futuros também dispararam, deixando de indicar um corte da taxa básica na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC. O contrato de DI com vencimento em janeiro, o mais líquido, fechou o dia projetando taxa de 20,45%, bastante acima do encerramento de segunda-feira, de 19,20%. O C-Bond, o título da dívida externa brasileira mais negociado e principal componente do risco Brasil, caiu 4,8%, fechando cotado a 67 centavos de dólar. O risco País, que mede a diferença entre os juros de uma cesta de títulos de dívida externa brasileiros e papéis equivalentes do Tesouro americano, aumentou de 1.149 pontos para 1.232 pontos. Ou seja, no mercado secundário, os títulos brasileiros estão com um deságio que equivale a juros 12,3 pontos porcentuais acima a taxa dos títulos do governo americano. "O C-Bond está no mesmo nível de depois de 11 de setembro, quando o mundo estava em chamas", disse o diretor de Tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado. O dia começou relativamente calmo, até que o Tesouro foi malsucedido em um leilão de títulos com vencimento em outubro e, portanto, sem o risco de uma mudança de política econômica por causa das eleições. Com o mercado exigindo juros altos demais até para um papel que vence antes da posse do novo presidente, o Tesouro encerrou o leilão antes de vender todo o lote de 2 milhões de títulos prefixados. O mercado interpretou o resultado do leilão do Tesouro como sinal de que o governo pode ter dificuldades em rolar um vencimento de US$ 2,354 bilhões em dívida pública indexada ao dólar no dia 19. Na tentativa de acalmar os ânimos, o BC anunciou na noite desta terça-feira, após o fechamento dos mercados, que vai começar a rolar as dívidas que vencem na semana que vem a partir de amanhã, oferecendo títulos com um instrumento de proteção cambial, com vencimento em dezembro. O diretor do Fator não quis arriscar uma previsão de qual será a eficácia desta arma apresentada pelo BC depois do fechamento. "O nervoso chega de uma vez, mas acalmar os mercados leva tempo e paciência", disse Machado, ressaltando que, na sua visão, o Tesouro errou a mão e ofereceu um volume grande demais de títulos hoje. "Não devia ter oferecido nada, com o mercado desse jeito." Acrescenta-se às pressões sobre o dólar o acúmulo de vencimentos da dívida externa das empresas brasileiras este mês, de US$ 2,24 bilhões. Com o risco Brasil bem acima de mil pontos, fica caro demais para as empresas captarem no exterior. Nos últimos meses, apenas empresas com algum tipo de receita futura em moeda estrangeira para garantir os empréstimos estão conseguindo captar recursos no mercado internacional. Os boatos de rebaixamento da classificação de crédito do Brasil, por uma das duas agências de análise de risco que mantêm o País em perspectiva negativa, a Standard & Poor´s e a Fitch, contribuíram para o pânico no mercado, o ingrediente preferido dos especuladores. Operadores disseram que a forte queda do C-Bond, por exemplo, foi em grande parte conseqüência de operações especulativas de grandes fundos de hedge do mercado global. A diretora de ratings soberanos da América Latina da S&P, Jane Eddy, disse que não pode comentar possíveis mudanças da classificação de crédito do Brasil, ou rating. Mas confirmou que a agência está acompanhando as mudanças recentes no perfil da dívida pública brasileira, depois dos leilões que encurtaram muitos vencimentos para até o início do ano que vem, e os efeitos do acúmulo de vencimentos da dívida externa do setor privado este mês. Os ativos brasileiros ainda foram empurrados para baixo pela queda das bolsas americanas, que também encerraram o dia nos níveis registrados nos meses que seguiram os ataques terroristas. O índice Standard & Poor´s 500, o mais amplo do mercado americano, caiu 1,7%, para 1.013,60 pontos, o menor nível desde 26 de setembro do ano passado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.