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Mercados emergentes atraem investimentos em 2002

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar da crise argentina e das incertezas em relação à Turquia, os analistas estrangeiros estão demonstrando um crescente otimismo em relação aos mercados emergentes em 2002. Segundo eles, a economia mundial deverá iniciar um processo de recuperação neste ano, mas as políticas monetárias dos países ricos permanecerão relaxadas devido à pequena pressão inflacionária. Com a manutenção das taxas de juros em níveis muitos baixos haverá um maior volume de capital disponível. Esse clima positivo poderá resultar na retomada de investimentos diretos nos países em desenvolvimento. Os papéis soberanos e os mercados acionários dos emergentes também já estão se tornando mais atrativos, o que poderá reverter uma performance modesta registrada desde o início da década de 90. Nem todos os emergentes deverão se beneficiar desse aumento de apetite pelo investimento de risco. A Argentina, obviamente, será um deles. O Brasil, devido à proximidade da Argentina e, principalmente, às incertezas geradas pelas eleições presidenciais, ainda irradia alguma desconfiança. Mas, salvo mudanças drásticas na sua política macroeconômica, o país poderá também se beneficiar e até surpreender, pois recuperou ao longo dos últimos três meses uma avaliação positiva no mercado financeiro internacional. Os analistas acreditam que o fortalecimento do fluxo de investimentos para os emergentes não será generalizado, mas sim focado em países ou regiões consideradas atraentes e de menor risco. "Estamos já percebendo com os nossos clientes um maior interesse pelos emergentes, mas esse interesse é direcionado, pois os investidores conhecem bem os problemas de alguns países", disse à Agência Estado Matilde Ramirez, analista da Emerging Markets Economics, empresa que presta consultoria a empresas interessadas em investir em países emergentes. Segundo ela, os países que mais se beneficiarão serão aqueles do Leste Europeu que devem se tornar membros da União Européia (UE), como a Polônia, Hungria e República Tcheca. Esses países terão que adaptar as suas estruturas e políticas monetárias e fiscais ao bloco europeu, o que serve como um fator de atração e segurança para os investidores. Além disso, o México deverá se beneficiar da retomada do crescimento da economia norte-americana. A analista acredita que o Brasil também se beneficiará desse processo. "Estamos recebendo consultas de investidores interessados no Brasil", disse. "Sem dúvida, houve uma mudança positiva no ânimo dos investidores em relação ao país." Ela aponta a sucessão presidencial como o principal fator de risco para o Brasil neste ano. Mas não serão apenas os investimentos diretos que deverão voltar aos emergentes. O estrategista-chefe para investimentos do First Union Securities, Rod Smyth, em seu relatório com as perspectivas para 2002, vê os papéis dos emergentes como "potenciais beneficiários de um recuperação econômica global". Segundo ele, desde o final da década de 80, os emergentes tiveram uma performance muito modesta como uma classe de ativos. A queda dos preços das commodities e as sucessivas crises financeiras globais afastou os investidores dos emergentes, principalmente quando a economia norte-americana estava indo muito bem. "Há várias razões que nos levam a acreditar que os mercados emergentes deverão retornar ao radar dos investidores" disse Smyth. Segundo ele, o reaquecimento da economia global previsto para este ano aliado aos grandes cortes de juros no ano passado, deverão elevar a demanda e alavancar os preços das commodities em 2002. Além disso, com a recuperação global, o crescimento dos ganhos deverá se tornar mais visível, o que deverá estimular o retorno do capital para os países em desenvolvimento. Smyth observou que desde setembro passado, os mercados acionários dos emergentes, medidos pelo índice Dow Jones Emerging Markets, subiram mais de 40%, "claramente rompendo uma tendência de queda" dos últimos dois anos. "A crise financeira na Argentina, que obviamente foi um grande acontecimento econômico para os emergentes, teve um efeito pequeno - ou nulo - nos preços, num agudo contraste ao que ocorreu durante a crise russa em 1998", disse. "Isso sugere que quase todas as más notícias já foram precificadas nos estoques dos emergentes." Para o banco de investimentos Dresdner Kleinworth Wasserstein os temores com as dívidas dos emergentes estão sendo superados. "Graças à baixa inflação, as políticas monetária e fiscal dos países do G-7 ainda têm espaço para maior relaxamento e promover uma recuperação gradual", disse Neil Dougall, diretor de pesquisa econômica do DKW. "O apetite pelo risco deverá aumentar, beneficiando os soberanos dos emergentes." Segundo ele, a recuperação global, em conjunto com a estabilização dos preços do petróleo e das commodities e um cenário político internacional mais calmo deverá reabrir os mercados de emissões, fortalecendo a sustentabilidade das dívidas. Esse novo fluxo de bônus deverá ser "absorvido por fortes posições de capital, geradas pela repressão às emissões em 2001 e à saída da Argentina como maior emissor emergente." Para o DKW, a Argentina está num processo de isolamento do resto mercado. "Isso deixará os mercados emergentes, mas especialmente a América Latina, livre para negociar sobre fundamentos e dados técnicos", disse o banco. "O Brasil, nesse contexto, deverá ser o eixo dos mercados emergentes em 2002, como o soberano-chave, líquido, com spreads atrativos que estão sendo elevados pelo risco de um futuro político incerto." O banco ressaltou que tem uma avaliação muito positiva para a perspectiva macroeconômica brasileira em 2002. Uma inflação menor deverá trazer a queda dos juros e o crescimento do PIB deverá registrar "respeitáveis" 2,5%. "Uma recuperação de crescimento e um política fiscal rigorosa com outro grande superávit primário de 3,5%, deverão reduzir a carga de juros e melhorar a dinâmica da dívida pública do país."

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