26 de agosto de 2021 | 17h50
Os mercados internacionais fecharam em queda nesta quinta-feira, 26, à espera do Simpósio de Jackson Hole, evento organizado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que deverá trazer mais detalhes sobre o futuro da política monetária dos Estados Unidos. A situação no Afeganistão também foi monitorada, após a confirmação da morte de militares em um novo atentado realizado nesta manhã.
O foco deverá ser o aperto no programa de compra de ativos, processo conhecido como 'tapering'. A expectativa do mercado é que os dirigentes do BC americano que discursarão na ocasião, entre eles o presidente Jerome Powell, deem sinalizações sobre os próximos passos do Fed sobre o tema, incluindo as condições necessárias para dar início ao processo, mas sem cravar uma data.
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Hoje, três dirigentes do Fed reforçaram suas defesas pela retirada dos estímulos ainda este ano. Presidente da distrital de Dallas da entidade, Robert Kaplan estimou que o tapering pode começar em outubro ou pouco tempo depois - visão compartilhada por James Bullard, chefe do Fed de St. Louis. Já a presidente da distrital de Kansas, Esther George, afirmou que prefere a redução dos estímulos "antes cedo do que tarde".
Ainda sobre política monetária, o banco central da Coreia do Sul elevou seu juro básico da mínima histórica de 0,50% - nível em que permaneceu por 15 meses - para 0,75%. A decisão foi interpretada como uma forma de conter o avanço das dívidas das famílias e esfriar os preços dos imóveis, apesar dos surtos recentes de covid-19 ainda ameaçarem a recuperação do País.
O aumento da tensão no Afeganistão também foi monitorado de perto pelo mercado, após homens-bomba causarem duas explosões nos arredores do aeroporto internacional de Cabul, centro de uma retirada aérea histórica de tropas e civis - que deve durar até o dia 31 deste mês - após o Taleban assumir o controle do país. O ataque, que teria sido causado por um braço do Estado Islâmico, causou a morte de dezenas de soldados americanos e afegãos, além de civis. Outras centenas também ficaram feridos.
Analistas já especulam sobre o potencial impacto do episódio para os democratas, que poderiam perder fôlego na eleição de meio de mandato do ano que vem, dificultando o avanço da agenda da Casa Branca no Legislativo. Em discurso, o presidente dos EUA, Joe Biden, prometeu uma resposta aos ataques.
Na agenda de indicadores, a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA do segundo trimestre cresceu em taxa anualizada de 6,6%, 0,1 ponto porcentual abaixo do esperado pelo mercado. Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida inflacionária favorita do Fed, cresceu à taxa anualizada de 6,5% entre abril e junho.
Segundo a Oxford Economics, o crescimento do PIB americano já passou do seu pico em meio à recuperação da crise, mas continuará sólido em 2022. Ainda por lá, o Departamento do Trabalho informou que os pedidos de auxílio-desemprego no país subiram 4 mil na semana encerrada em 21 de agosto, a 353 mil. O número superou a estimativa de 350 mil solicitações de economistas consultados pelo The Wall Street Journal.
Em meio às incertezas do cenário mundial, o índice Dow Jones recuou 0,54%, o S&P 500 cedeu 0,58% e o Nasdaq teve baixa de 0,64%. As perdas do mercado americano ficaram ainda mais evidentes no final da tarde, após a confirmação da morte de militares americanos no ataque.
O clima também foi negativo no mercado europeu, com o índice Stoxx 600, que concentra as principais empresas da região, cedendo 0,32%, enquanto a Bolsa de Londres recuou 0,35%, a de Paris, 0,16% e a de Frankfurt, 0,42%. Já os índices de Milão, Madri e Lisboa baixaram 0,76%, 0,94% e 0,37% cada.
O mesmo cenário foi visto no mercado asiático, com a Bolsa de Seul em baixa de 0,58%, Tóquio, de 0,06% e Hong Kong, de 1,08%. Os índices chineses de Xangai e Shenzhen recuaram 1,09% e 1,53% cada. Na contramão, a Bolsa de Taiwan teve modesto ganho de 0,12%. Na Oceania, a bolsa australiana seguiu o tom predominante na região asiática e caiu 0,54%.
Os contratos futuros do petróleo fecharam em queda nesta quinta, após três dias de ganhos. A baixa se dá em meio ao fortalecimento do dólar, à espera do evento do Fed, e da maior cautela dos mercados diante do impasse no Afeganistão. Na visão de analistas, porém, a forte demanda pelo óleo deve fazer com que o preço se eleve em breve.
O petróleo WTI para outubro fechou com baixa de 1,38%, a US$ 67,42 o barril. Já o barril do Brent para novembro caiu 1,54%, a US$ 70,18 o barril. O recuo do óleo pesou diretamente nas ações do setor na Bolsa de Nova York: Chevron teve queda de 1,29%, ExxonMobil, de 1,33% e ConocoPhillips, de 1,61%. /MAIARA SANTIAGO, GABRIEL CALDEIRA, ILANA CARDIAL E SERGIO CALDAS
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