As Bolsas da Ásia, Europa e Nova York fecharam em baixa generalizada nesta sexta-feira, 22, após a China anunciar que vai impor novas leis de segurança nacional a Hong Kong, em um gesto que deteriora ainda mais as relações com os Estados Unidos. Além disso, pesa o fato de o país asiático, segunda maior economia do mundo, decidir não estabelecer uma meta de crescimento para este ano, reforçando preocupações sobre o impacto econômico da pandemia de coronavírus.
Na quinta-feira, 21, um porta-voz do Legislativo chinês informou que parlamentares vão deliberar sobre um projeto de resolução para reforçar mecanismos de segurança com o objetivo de "interromper atividades subversivas e a interferência estrangeira" em Hong Kong. O Congresso Nacional do Povo, que iniciou sua reunião anual nesta sexta, deve aprovar a resolução na próxima semana.
O anúncio vem num momento de crescentes tensões entre EUA e China, alimentadas em grande parte por críticas do governo americano à forma como Pequim vem lidando com o surto do novo coronavírus, que teve origem na cidade chinesa de Wuhan, no fim do ano passado.
Na quinta, Donald Trump, disse que haverá uma "reação muito forte" de Washington, se a China seguir adiante com seu plano para Hong Kong. Há menos de um ano, a região foi palco de violentas manifestações populares, motivadas por um polêmico projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China continental.
Já na reunião legislativa que começou na madrugada desta sexta-feira, 22, a China decidiu não fixar uma meta para seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, num reconhecimento dos desafios que enfrenta em meio a esforços para amortecer os impactos da covid-19, como é conhecida a doença provocada pelo coronavírus. É a primeira vez que o governo chinês não estabelece uma meta numérica de crescimento desde 1994.
Bolsas da Ásia
Longe da tensão EUA-China, no Japão, o banco central local (BoJ) anunciou um novo programa de financiamento para bancos, estimado 30 trilhões de ienes (US$ 279 bilhões), para incentivá-los a ampliar empréstimos a companhias afetadas pelo coronavírus. Já o BC da Índia (RBI) cortou juros, também em reação à covid-19.
Contudo, o aumento da tensão entre Estados Unidos e China derrubou os mercados da Ásia. O Hang Seng de Hong Kong liderou as perdas na região, com um tombo de 5,56%. Entre os chineses, o Xangai Composto encerrou com queda de 1,89% e o menos abrangente Shenzhen Composto se desvalorizou 2,02%. O japonês Nikkei caiu 0,80% em Tóquio, o sul-coreano Kospi recuou 1,41% em Seul e o Taiex registrou baixa de 1,79% em Taiwan. Na Oceania, a Bolsa australiana seguiu o tom negativo da Ásia, e o S&P/ASX 200 caiu 0,96% em Sydney.
Bolsas da Europa
Notícias positivas animaram os mercados da Europa. O Banco Central Europeu (BCE) sinalizou que pode fazer mudanças no programa de compra de ativos e a Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciou que as pesquisas em torno de uma possível vacina contra o coronavírus seguirão para as próximas fases, após ter concluído a primeira etapa, iniciada em abril. Impulsionado pelo noticiário, o índice Stoxx 600 encerrou com baixa marginal de apenas 0,03%.
Porém, com o conturbado cenário político mundial, as Bolsas do velho continente fecharam sem sentido único. O FTSE 100 de Londres encerrou em queda de 0,37% e em Paris, o CAC 40 recuou 0,02%. Já em Frankfurt, o DAX subiu 0,07%. O FTSE MIB de Milão, o Ibex 35 de Madri e o PSI 20 de Lisboa ganharam 1,34%, 0,17% e 0,62%, respectivamente.
Bolsas de Nova York
As Bolsas de Nova York conseguiram contornar o embate entre as maiores potências atuais e quase fecharam em alta generalizada. O Nasdaq subiu 0,43% e o S&P 500 avançou 0,24%. O Dow Jones fechou com queda de 0,04%, após começar a subir nos minutos finais do pregão.
Entre as ações em foco, destaca-se a da Moderna, que teve alta de 2,91%, apoiada pela declaração de Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, de que a candidata à vacina contra o coronavírus desenvolvida pela farmacêutica é "promissora".
Petróleo
A commodity teve um dia negativo nesta sexta, após a China, uma das maiores consumidores de petróleo do mundo, anunciar que não vai traçar uma meta para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A medida aumentou ainda mais os temores frente aos impactos do novo coronavírus na economia e colocou em cheque a eficácia do plano de retomada econômica do país asiático.
Com isso, o WTI para julho, referência no mercado americano, fechou em queda de 1,98%, com ganho semanal de 12,6%. Já o Brent para o mesmo mês, referência no mercado europeu, recuou 2,58%, a US$ 35,13 o barril, com alta semanal de 8,10%. As tensões EUA-China também ajudaram a desestabilizar o mercado do petróleo nesta sexta./COLABORARAM ANDRÉ MARINHO, GABRIEL BUENO DA COSTA E MAIARA SANTIAGO