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Mercados mundiais têm dia de pânico

No Brasil, Ibovespa chega a despencar 8,82%, se recupera e cai 2,58%; dólar vai a R$ 2,09, maior valor desde março

Por Leandro Mode
Atualização:

Os mercados globais viveram ontem momentos de pânico e, para a maioria dos analistas, a turbulência iniciada em 26 de julho já é considerada uma crise financeira. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) chegou a despencar 8,82% no pior momento do dia, mas, perto do fim do pregão, pegou carona numa leve melhora das bolsas em Nova York e caiu 2,58%. O dólar disparou 3%, para R$ 2,092, maior valor desde 16 de março. O risco Brasil avançou 12,5%, para 225 pontos. O movimento não foi detonado por uma notícia específica, mas, novamente, pelo medo do contágio da crise imobiliária americana no mercado financeiro mundial. Não há estimativas oficiais sobre o potencial de prejuízo, mas há analistas que falam em até US$ 300 bilhões. Um estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em julho, assinado por John Kiff e Paul Mills, calculava que, se os preços dos imóveis nos Estados Unidos caíssem 5%, os detentores de um tipo de bônus chamado CDO perderiam até US$ 60 bilhões. O CDO (sigla em inglês para obrigação de dívida colateralizada) é um título lastreado em ativos de crédito. Há hoje no mercado uma infinidade deles ancorados em ativos de crédito imobiliário dos EUA. O Índice Dow Jones recuou 0,12% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 0,32%. Na Europa, as quedas foram mais intensas porque os mercados acionários fecharam no pior momento do dia. O Índice FTSE 100 da Bolsa de Londres deslizou 4,1%, menor pontuação desde setembro de 2006. O Xetra-Dax, da Bolsa de Frankfurt, caiu 2,4%. Dois indicadores do mercado brasileiro revelam o tamanho do nervosismo. A Bovespa registrou ontem recorde no volume negociado, R$ 8,4 bilhões. Em julho, o volume médio diário foi de R$ 4,8 bilhões. Um dia normal no mercado cambial movimenta entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão. Nos últimos dias, foram, em média, US$ 3 bilhões. ''''É por isso que o dólar subiu tanto. Só não foi além porque exportadores entraram no mercado vendendo moeda'''', disse Tarcísio Rodrigues, diretor do Banco Paulista. ''''Estou no mercado há 20 anos, passei por muitas crises e hoje (ontem) será um dos dias dos quais me lembrarei sempre.'''' Segundo Paulo Tenani, analista-chefe do banco UBS, essas alterações nos volumes dos dois mercados são explicadas pela maciça saída de investidores estrangeiros do Brasil. Entre 26 de julho e 14 de agosto, R$ 1,9 bilhão deixou a Bovespa. A maioria estava alavancada. Ou seja, havia tomado empréstimos para investir em ativos que rendessem mais do que o custo desse crédito. Com a turbulência, os bancos emprestadores estão pedindo parte - ou a totalidade - do dinheiro de volta. Com isso, eles são obrigados a liquidar os investimentos para pagar os bancos. Em meio à escalada de tensão, surgiram diversos rumores. Em um deles, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) realizaria uma reunião extraordinária hoje para reduzir a taxa básica de juros. Para Roberto Padovani, economista do banco West LB, três fatores configuram a situação como crise financeira: (1) os preços das commodities, que vinham resistindo às quedas, despencaram ontem; (2) o iene valorizou-se fortemente ante o dólar; e (3) os investidores correram para os títulos públicos dos EUA. Os preços desses papéis subiram, o que reduz as taxas pagas aos investidores. O juro do T-bond de 10 anos fechou em 4,656%, de 4,711% quarta-feira. ''''A situação se espalhou para vários mercados'''', observou Padovani. Segundo ele, uma característica que difere essa crise de outras é a falta de informação. ''''Sabe-se que há problemas no sistema bancário americano que ainda não foram explicitados.'''' Por isso, disse, ''''ninguém sabe dizer quão longa será''''.

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