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Mercedes-Benz anuncia demissões no ABC e metalúrgicos param produção

Funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo cruzaram os braços em protesto ontem e ameaçam novas manifestações contra intenção da empresa, segundo o sindicato, de demitir 1,8 mil trabalhadores; montadora confirma cortes, mas ainda avalia números

Por e André Ítalo Rocha
Atualização:

SÃO PAULO - Após adotar várias medidas de corte de produção e de continuar operando com menos da metade de sua capacidade instalada, a Mercedes-Benz comunicou aos trabalhadores nesta semana que vai demitir parte de seu efetivo na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

A empresa alega ter 1.870 funcionários ociosos. Em protesto, os metalúrgicos suspenderam a produção de caminhões e ônibus ontem e ameaçam novas manifestações.

As demissões devem ocorrer a partir de 1.º de setembro, após o fim da estabilidade prevista para os funcionários que participam do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), de três meses nesse caso.

630 trabalhadores já deixaram a empresa por meio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

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O diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz, Luiz Carlos de Moraes, confirma os cortes, mas diz que ainda não há definição de números. Segundo ele, a empresa tinha 2,5 mil excedentes, num total de 9,8 mil funcionários e abriu um Programa de Demissão Voluntária (PDV), mas obteve apenas 630 adesões.

Moraes afirma que, desde 2014, a Mercedes adotou várias medidas, como férias coletivas, PPE e lay-off. A fábrica tem 1,4 mil trabalhadores em licença remunerada desde fevereiro e, ainda assim, opera em média com um dia a menos por semana. “Não temos mais alternativa a não ser a redução do quadro”, diz ele, que afirma estar em negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

“Tentamos apresentar medidas alternativas, mas a empresa se mostrou irredutível. Sabemos que há queda na produção, mas acreditamos que existam outras formas de atravessar este período, como a renovação do PPE, layoff, ou outros instrumentos que preservem empregos”, diz Aroaldo Oliveira, vice-presidente do sindicato. “Vamos insistir na busca de soluções e nos manter mobilizados”. A paralisação de ontem foi de advertência e os funcionários voltam ao trabalho hoje.

Nesta semana, trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo fizeram acordo com a montadora, aceitando, entre outras medidas, cinco meses sem aumento real nos salários e abertura de um PDV para evitar 3,6 mil demissões, número também contabilizado pela fabricantes como excedente, em um total de 10,5 mil empregados.

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Mais cortes. No mês passado, a indústria automobilística fechou 1.147 vagas. Considerando os últimos 12 meses, são 8.919 empregos a menos. O setor tem hoje 127.986 funcionários, o menor contingente desde 2009, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Além disso, as montadoras têm 26 mil trabalhadores em programas que visam reduzir a produção. Desse grupo, 21 mil estão inscritos no PPE, com redução de jornada e salários em até 20%, e 5 mil estão em lay-off (contratos suspensos por até cinco meses). Em ambos os casos, parte dos salários é bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A produção de caminhões no País acumula queda de 24,5% de janeiro a julho ante igual período de 2015, com 36,3 mil unidades. Também foram produzidos 10,8 mil ônibus, 31% e menos que no ano passado.

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