PUBLICIDADE

Mercosul não está preparado para moeda única, diz Adebim

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora exista vontade política dos países membros para atingir objetivos mais ambiciosos para o Mercosul, o bloco não só não está preparado para uma moeda comum como sequer cumpriu, em mais de uma década de vida, os princípios básicos de uma união aduaneira. A afirmação é do presidente da Associação de Empresas Brasileiras para a Integração de Mercados (Adebim), Michel Alaby. Para Alaby, a idéia de acelerar a unificação monetária no Mercosul não passa apenas pela vontade política dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Eduardo Duhalde, da Argentina, mas pela superação de dificuldades técnicas que não foi possível em mais de dez anos de existência do bloco comercial do Cone Sul. De acordo com ele, o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai não podem sonhar atingir uma união monetária se não conseguirem, antes, aperfeiçoar a união aduaneira, hoje totalmente imperfeita. Alaby cita, por exemplo, a perfuração (a não uniformização) da Tarifa Externa Comum (TEC) como um dos grandes problemas existentes hoje no bloco regional. "Como podemos pensar em unificar nossas moedas se nem mesmo conseguimos atingir o primeiro estágio, o da formação de uma área de comércio totalmente livre?", indaga Alaby. Ele se refere à não inclusão, até agora, do açúcar e dos automóveis no comércio entre os países que fazem parte do bloco. Além disso, explica o executivo da Adebim, o Mercosul precisa ainda superar uma fase fundamental antes de chegar a uma moeda comum - a harmonização e coordenação das políticas macroeconômicas dos quatro países. "Isso não se faz em três, quatro ou cinco anos anos. Não adianta ter apenas vontade política", afirmou Alaby. A União Européia, por exemplo, precisou de pelo menos 20 anos de discussões sobre os princípios da unificação monetária e de outros dez anos de trabalhos técnicos para criar o euro, a moeda comum que mesmo assim não foi adotada pela totalidade dos 15 países do bloco europeu. Hoje, Inglaterra, Suécia e Dinamarca estão fora da zona do euro. A adoção do euro també foi possível porque a União Européia tinha um orçamento em ECU (European Currency Unit), que era determinada por uma banda de flutuação e pelo peso da moeda de cada um dos países membros. "Antes de pensar em moeda comum, é estritamente necessário cumprir alguns critérios macroeconômicos que o Mercosul não cumpriu. E mais, as diferenças políticas e econômicas entre os países são gigantescas", disse à Agência Estado uma fonte da Comissão Européia, órgão executivo da União Européia. Do ponto de vista europeu, segundo a fonte, "a idéia de uma moeda comum é boa quando o êxito da iniciativa está garantido". Maastricht Em novembro de 1993, quando o Tratado de Maastricht foi assinado, os 15 países europeus, por exemplo, se comprometeram a cumprir seis princípios básicos para alguns anos depois adotar o euro como moeda única. Primeiro, era necessário que os países não gerassem déficits fiscais superiores a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Não poderiam também fazer com que sua dívida pública superasse os 60% do PIB. A inflação também não poderia superar em 1,5 ponto porcentual a média dos três países com menor inflação. Os juros (básicos), por sua vez, não deveriam superar em dois pontos porcentuais a taxa de três países com a menor taxa. Além disso, era obrigatório que os países mantivessem sua taxa de câmbio estável dentro de uma banda de flutuação que havia sido determinada. Finalmente, os Bancos Centrais teriam de ser obrigatoriamente independentes. Em Maastricht adotou-se um prazo de cinco anos para atingir esse objetivo. "Quem não cumprisse, seria obrigado a pagar uma multa a ser determinada por 2/3 do Conselho de Ministros", disse a fonte. "Os objetivos políticos do Mercosul soam bem. Mas, na prática, não funciona assim. Não se pode ir além dos passos", comentou a fonte da Comissão Européia. Para ele, o bloco regional precisa definir primeiro sua agenda e em que direção quer avançar. "Não adianta apenas avançar, têm (os quatro países do bloco) de avançar juntos e não cada um andar para direções diferentes, o que é muito difícil conseguir."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.