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Mesmo com rali no final, Bovespa tem pior mês em 10 anos

Por ALUÍSIO ALVES
Atualização:

Uma variação discreta em dia de intensa volatilidade selou o mês em que a crise financeira internacional levou a Bolsa de Valores de São Paulo a amontoar recordes, todos negativos. O Ibovespa recuou 0,51 por cento nesta sexta-feira, para 37.256 pontos, em meio à realização de lucros com ações de bancos e de siderúrgicas. O resultado da semana ainda foi um ganho de 18 por cento, depois de três fortes altas. Mas, apesar de expressivo, esse sprint final não livrou o índice de acumular queda mensal de 24,8 por cento em outubro, a pior desde agosto de 1998. O giro financeiro da sessão foi de 4,77 bilhões de reais. Segundo analistas, a volatilidade mostrou a dificuldade dos investidores em encontrar referenciais para os negócios, já que enxergaram simultaneamente evidências de arrefecimento da crise financeira e o rastro de prejuízos deixado por ela. "O mercado está tentando voltar à racionalidade, mas ainda está difícil medir os estragos", disse André Simões, gestor de fundos do Modal Asset Management. Uma demonstração dessa complexidade foi o comportamento das ações da Vale. Esses papéis fecharam o dia com alta de 0,8 por cento, a 25,40 reais, depois de terem chegado a despencar quase 6 por cento pelo fato de a mineradora ter avisado que vai reduzir sua produção de minério em 30 milhões de toneladas para se ajustar ao novo cenário global. Na outra ponta, a rede varejista Lojas Renner ampliou as receitas do terceiro trimestre, mas a queda de 12 por cento no lucro foi o suficiente para a ação despencar 14,9 por cento, para 15,70 reais, o pior desempenho do índice. Ações de bancos, que haviam se recuperado nas últimas três sessões, foram alvo de realização de lucro. Bradesco foi um dos destaques, cedendo 3,05 por cento, a 25,09 reais, na contramão de Wall Street. O Dow Jones subiu 1,57 por cento. Uma das líderes de ganhos no Ibovespa foi Sadia, com avanço de 5,7 por cento, a 4,42 reais, um dia depois de a companhia ter reportado prejuízo de 777 milhões de reais no terceiro trimestre por perdas nos mercados de derivativos. OUTUBRO NEGRO Pânico, esperança, incerteza. As diversas nuances do humor dos investidores num dos piores meses da história da bolsa paulista podem ser traduzidas em números. No período, o Ibovespa teve a maior alta diária desde 1999. Registrou também a maior queda diária em uma década, numa das quatro sessões em que o circuit breaker foi acionado, depois de o Ibovespa ter ultrapassado dois dígitos de queda. A saída líquida de capital externo superou 23 bilhões de reais. Para analistas, passadas as turbulentas semanas desde a fatídica segunda-feira do colapso do Lehman Brothers, os numerosos esforços de governos para tentar restabelecer a engrenagem do crédito, incluindo corte de juros e capitalização de bancos, começam a aparecer. "Há sinais de que os canais de crédito estão sendo retomados e que a fase mais aguda da crise passou", disse Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. "A discussão agora deve voltar gradualmente para os fundamentos, à medida que o mercado tenta avaliar a devastação provocada pela crise sobre a economia e os resultados das empresas."

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