Publicidade

Mesmo com ruídos políticos, Moody's ainda não vê deterioração institucional no País

Em painel no evento Finanças Mais, organizado pelo 'Estadão' e pela Austin Rating, o diretor-geral da agência de classificação de risco no Brasil, Carlos Prates, afirmou que falas de Bolsonaro não mudam a percepção com relação ao risco de crédito do Brasil

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Cicero Cotrim
Por Guilherme Bianchini , Thaís Barcellos (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

O diretor-geral da Moody's no Brasil, Carlos Prates, afirmou que a agência de classificação de risco não considera que há deterioração institucional no País dentro da lógica de atribuição da nota do Brasil ou da capacidade de pagamento do governo. “A gente ainda não está num ponto que a gente pode dizer que essa deterioração está acontecendo”, disse, durante participação em painel no evento Finanças Mais, organizado pelo Estadão e pela Austin Rating.

PUBLICIDADE

Segundo ele, as manifestações do presidente da República, Jair Bolsonaro, até agora geram ruído e não mudam a percepção com relação ao risco de crédito do País, em um contexto de aumento do ruído político no momento pré-eleitoral. Ele afirmou que a percepção é de que as instituições do Brasil - e, em especial, o Poder Judiciário - são fortes e que parte dos ruídos políticos que atingem o País se devem a essa questão.

O executivo afirmou ainda que a agência não considera nenhuma probabilidade no seu cenário de que não haja eleições presidenciais no País em 2022. “Isso é um cenário muito extremo, acho que a gente estaria caminhando para um cenário no qual a nota (de crédito) nem faz mais sentido, seja ela qual for”, afirmou. “Definitivamente, isso é algo que poderia afetar a nota do Brasil, da América do Sul, dos emergentes de uma maneira geral, mas a gente não trabalha com esse cenário em nenhuma hipótese.” 

Carlos Prates, da Moody's, Fernando Honorato, do Bradesco, e Roberto Secemski, do Barclays, participam de painel com mediação do colunista do 'Estadão' Fábio Alves. Foto: Reprodução/YouTube

Atividade econômica

Também participando do evento, o economista para o Brasil do Barclays, Roberto Secemski, afirmou que é difícil estimar o impacto da crise hídrica no Produto Interno Bruto (PIB), mas que os efeitos de uma redução entre 0,5% e 1,0% já seriam suficientes para um "Pibinho" em 2022, com crescimento na casa de 1%. "Muito em função não só da restrição hídrica, mas da consequência sobre a confiança. O preço de energia afeta todos os setores, principalmente a indústria", afirmou. 

Após a surpresa negativa com o resultado do PIB do segundo trimestre deste ano (-0,1%), o Barclays revisou a projeção para 2022 de 1,9% para 1,7%. "Não é impossível ter decepção com a performance do PIB no ano que vem. Temos 1,7%, mas, a depender desses choques, e de possível resposta mais enérgica da política monetária do Banco Central, tudo isso poderia contribuir para um desempenho decepcionante", analisou Secemski.

O economista alertou ainda para a possível volatilidade em decorrência de uma eleição presidencial polarizada e para o processo de tapering (diminuição dos estímulos) nos Estados Unidos. A expectativa de Secemski é de que a redução da compra de ativos por parte do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) comece no fim deste ano e se estenda até meados de 2022, algo que também impõe desafios ao crescimento brasileiro. 

Publicidade

Outro participante do painel, economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, disse, porém,quehá uma possibilidade de alta no PIB do próximo ano, associada a uma diminuição dos riscos fiscais internos.

Prates também avaliou que o cenário de PIB de 2022 não é tão ruim, embora a expectativa seja de desaceleração de 5,2% em 2021 para 2,1% no ano que vem. Ele destacou que o que mais incomoda no Brasil não é a capacidade de geração de receitas, mas a estrutura de gastos, que tem pouca liberdade. “E tem pressões que vem juntos e não consegue compensar do outro lado.”

Inflação

Ainda sobre a crise hídrica, Roberto Secemski ressaltou que a elevação da bandeira tarifária para o patamar “escassez hídrica” ainda não é suficiente para remunerar os custos de geração de energia - com os reservatórios das hidrelétricas baixos, foram acionadas usinas térmicas, que tem custo mais alto. Dessa forma, os reajustes anuais podem ser maiores em 2022, mesmo com a bandeira vermelha em nível 1 ou 2.

PUBLICIDADE

“Ainda não sabemos como o ciclo hidrológico vai se desenrolar. E tem a questão do câmbio, que tende a ser mais volátil em ano eleitoral e afeta (os preços dos) combustíveis. Isso desencoraja revisões para baixo (na inflação) neste momento”, disse.

Secemski acrescentou que a reabertura impulsiona serviços e pode causar pressão adicional nos preços, já considerando que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, pode atingir pico no acumulado de 12 meses entre 9,5% e 10% nos próximos dois meses. 

Carlos Prates, da Moody's, afirmou que a inflação é hoje um problema global, mas disse que a tendência é de que o IPCA chegue ao fim de 2022 dentro da meta no País, mesmo considerando que o Brasil tenha questões próprias, como a crise hídrica. “A gente acredita na capacidade dos bancos centrais e no Banco Central brasileiro não é diferente.”

Publicidade

Para Honorato, do Bradesco, as expectativas de inflação não estão reagindo somente à política monetária, mas às “inúmeras incertezas”. Para ele, o BC tem de considerar que os riscos fiscais não vão se materializar e acreditar na defasagem e na potência da política monetária, que, na visão do banco, aumentou.

“Se os riscos fiscais se materializarem, a Selic vai ter que ficar acima de 10%, não tem jeito. Se os riscos fiscais não se materializarem, o BC tem que ser mais cauteloso”, diz, lembrando que uma dose maior de juros vai prejudicar muito a atividade econômica. 

“Se tivermos uma piora fiscal, teremos menos crescimento, mais juro e mais inflação”, afirmou, em relação à suas projeções de 1,8%, 3,3% e 7,5% para PIB, IPCA e Selic em 2022.

Premiação

O Prêmio Finanças Mais é uma radiografia das instituições líderes do setor financeiro, em diferentes categorias, com base na análise dos balanços relativos ao ano de 2020. Para definir os vencedores, a Austin Rating usou sua base de dados de mais de 30 anos sobre instituições financeiras brasileiras e uma metodologia própria, que faz uma análise de diferentes aspectos dos números de cada uma das empresas do setor. 

Além do Finanças Mais, foram entregues os Prêmios Broadcast Analistas e Projeções. As premiações reconhecem os profissionais e instituições que se destacaram nas estimativas de indicadores e também escolhe a corretora de destaque do ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.