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Mestre Archimedes, com sua caixinha de fósforos

Músico compôs alguns dos jingles mais famosos da história da propaganda, entre eles o do Café Seleto

Por Agencia Estado
Atualização:

O alto da Serra da Cantareira, onde os sons da Grande São Paulo não se fazem ouvir, é hoje o refúgio de um dos mais criativos autores de jingles do País. Archimedes Messina, 70 anos, chega até a reclamar do barulho dos pássaros e das árvores, cujos sons vão se misturando ao de uma caixinha de fósforos, onde tira composições como Urashima Taro e Seu Cabral, que fez para a Varig nos anos 70. Mas seu currículo tem ainda o jingle do Café Seleto, o do Theobaldo do Guaraná Antarctica e um que todos os domingos ecoa nos lares brasileiros: "Lá..ra/Lá...ra...rá,/ Silvio Santos vem aí". Músicas que fazem parte do imaginário popular e têm em comum, segundo Archimedes, um segredo: "São mais música do que jingle, por isso sobreviveram". Ele também não esconde a alegria quando os netos Paola, de 9 anos, e Matheus, de 3 anos, cantarolam alguns dos seus jingles. "Eu criei mais de 200, para muitas empresas. É uma atividade que sempre me deu muito prazer. Mas o maior prazer é ouvir alguém cantando aquilo que eu fiz", diz com olhar distante, de quem tem saudade do passado, mas preserva intacta a modéstia. Pai de 2 filhos, com 2 netos, Archimedes conta que começou a trabalhar na Rádio São Paulo aos 18 anos. "Ser radioator era um sonho da minha geração. Eu cheguei lá, mas queria mais." Foi aí, nos anos 50, que ele começou a criar músicas para as radionovelas para as quais era escalado. A primeira foi para o drama "Aqueles olhos azuis". Em 1957, fez a marchinha de carnaval "Faz um quatro aí", que o colega de rádio, o humorista Chocolate, gravou. Um amigo dos corredores das radionovelas, Jorge Adib, percebendo o gosto pela música e a facilidade com que compunha canções rápidas, o convenceu a sair da rádio para trabalhar com ele na Multi Propaganda. Foi difícil para Archimedes aceitar o convite. Nessa época, ele começava a namorar Inajá Jurema, a sua companheira de 38 anos de casamento. "Eu o conheci na rádio porque fui com uma amiga levar uma carta para participar de um dos sorteios. Era 1962, e em 1965 nos casamos e estamos juntos até hoje", diz Inajá. Só que Archimedes, querendo um pouco mais, aceitou o desafio proposto por Adib e foi para a agência compor jingles. Três anos depois, integrava o elenco de compositores da Sonotec, onde durante 15 anos compôs os jingles da Varig, fez o do Café Seleto e outros tantos para Antarctica, Brahma e Volkswagen. Hoje, ele continua compondo, mas reclama que a publicidade perdeu o tom musical do passado. Os pedidos são cada vez mais raros e o piano onde dedilha algumas notas, confessa, é pouco usado. "Também não sei tocar direito, o que sei é pegar a caixinha de fósforos. Testar o som até que ele ganhe corpo". Nos dias atuais, reclama, as empresas investem pouco neste tipo de criação. Ele tem orgulho de contar que, para gravar "Seu Cabral", pôde contratar, na época, a cantora portuguesa de fados Ilda de Castro. "O Urashima Taro quem gravou foi a Rosa Miyake e o London, London foi o Terry Winter. Eram outros tempos. O bom é que muita gente ainda gosta dessas músicas. Isso me faz feliz." Muito feliz, pois basta falar delas que os olhos de Archimedes começam a brilhar como os de um menino, e a caixinha de fósforos vai ganhando novos acordes. Ouça a seleção de jingles de Archimedes Messina: Varig seu Cabral (Versão RM) Silvio Santos (Versão RM) Café Seleto Cantado (Versão RM) Varig Itália (Versão RM) Disney (Versão RM) Café Seleto Valsa (Versão RM) Varig Japão (Versão RM) Varig seu Cabral (Versão WAV) Silvio Santos (Versão WAV) Café Seleto Cantado (Versão WAV) Varig Itália (Versão WAV) Disney (Versão WAV) Café Seleto Valsa (Versão WAV) Varig Japão (Versão WAV)

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