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'Meta é elevar para 20% número de mulheres em cargos de liderança até 2022', diz executiva da EDP

Fernanda Pires assumiu a recém-criada vice-presidência de Pessoas e ESG da empresa e tem a missão de integrar agenda com tomadas de decisão do grupo

Por Renée Pereira
Atualização:

Na EDP Brasil desde 2014, a executiva Fernanda Pires foi a escolhida para assumir o comando da recém-criada vice-presidência de Pessoas e ESG (sigla em inglês que contempla critérios ambientais, sociais e de governança) do grupo. Aos 39 anos, a executiva terá como principal desafio a integração cada vez maior dessa agenda sustentável nas tomadas de decisão da empresa do setor de energia. “Temos compromissos e objetivos muito concretos e, para alcançar esses objetivos, precisamos de uma empresa toda em movimento.”

Segundo ela, a companhia tem metas ambiciosas seja na área ambiental ou social. “Hoje falamos, por exemplo, em ser livre de carvão até 2025 e carbono neutro em 2030. Isso significa antecipar em 20 anos a decisão do Acordo de Paris”, diz a executiva. Na parte social, a meta é elevar de 22% para 30% o número de mulheres no quadro geral da empresa até 2022. “Em cargos de liderança temos 14% e chegaremos a 20%.” A seguir trechos da entrevista: 

Fernanda Pires assumiu em fevereiro nova vice-presidência de Pessoas e ESG criada pela empresa Foto: Leandro Fonseca/EDP

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Qual a importância da criação dessa vice-presidência?

Acredito que tem dois pontos importantes. Primeiro é a simbologia que isso dá para o assunto ESG. Além disso, o grande desafio dessa cadeira é conseguir integrar cada vez mais essa agenda nos processos de tomada de decisão da empresa. Tudo o que for fazer – seja na compra de um serviço ou produto ou para fechar um negócio – precisa passar por essa agenda, mesmo que isso signifique fazer coisas que vão além do que estabelecemos. É ter o ESG como valor da empresa, é nisso que acredito. Temos compromissos e objetivos muito concretos e, para alcançar esses objetivos, precisamos de uma empresa toda em movimento. Isso é o que tem se discutido no mundo empresarial, que é trazer isso para o DNA das companhias.

Quais fatores motivaram a criação dessa posição?

A criação dessa cadeira é resultado de uma caminhada que vem desde 2014. Desde essa época, a empresa tem uma agenda muito forte nessa dimensão ambiental, social e de governança. Tanto que em 2015 já tinha um olhar mais amplo em relação às metas e objetivos que precisávamos construir. Daquele momento para cá houve uma grande mudança, uma agenda de transformação cultural muito forte. E dentro dessa cultura já havia esse espectro mais largo de olhar para o meio ambiente, para aspectos sociais e de governança. Ao contrário do passado, nossas metas não têm mais como foco apenas o acionista. Elas têm uma visão holística. E isso traz uma agenda no dia a dia da companhia, porque passa a estar no dia a dia das pessoas. Ou seja, a criação dessa vice-presidência é resultado de uma caminhada mais longa nessa agenda.

O que um profissional tem de ter para assumir essa área?

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Muito tem se falado das habilidades importantes para os executivos que vão liderar essa agenda. Fala-se muito em pensamentos sistêmicos, porque é preciso ter um olhar mais amplo, mais holístico, um olhar para os diferentes agentes na construção da estratégia da companhia. Tem a questão dos stakeholders (partes interessadas) no processo de transformação. Então tem de ter esse olhar de stakeholder para entender o impacto da decisão de negócios em todos os envolvidos, nas comunidades, no entorno e também na inovação. Esse é um grande ponto que reforça essa agenda porque temos muitas coisas que foram feitas, mas precisamos falar sobre o que não foi feito ainda. Portanto, esse profissional precisar ter um olhar de desafiar, construir novas parcerias e se conectar com os stakeholders para conseguir trazer mais inovação para essa agenda.

Para uma empresa de energia, que tem como opção as fontes renováveis, é mais fácil ter esse olhar sustentável, atingir metas e criar novos programas?

Diria que nosso papel é bastante relevante porque faz parte da transição energética que vem pela frente. Isso nos ajuda. Mas o fato de termos começado esse processo antes nos trouxe maturidade para agora nos desafiar e criar ambições mais significativas. Hoje falamos em ser livre de carvão até 2025 e carbono neutro em 2030. Isso significa antecipar em 20 anos a decisão do Acordo de Paris. Na questão social, estruturamos uma agenda de diversidade e inclusão. Tínhamos muitas ações antes de 2019, mas foi a partir daquele momento que de fato fizemos uma governança forte por tema e comitês, com clareza do porquê diversidade e inclusão é importante para nossa estratégia. Você começa de fato a ter um desdobramento estrutural. Isso traz uma velocidade para a agenda muito grande. Então essa construção, que não ocorreu do dia para noite, hoje nos possibilita dar mais celeridade para a agenda. 

O que seriam essas ambições?

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Temos as metas ambientais submetidas ao Science Based Targets (SBTi), uma entidade que mobiliza empresas para assumirem compromissos com base na ciência. Isso consiste em ter uma matriz de geração energética 100% renovável e envolve uma série de ações, como eletrificar toda a frota de veículos leves no Brasil; fomentar a compra e venda de energia renovável no nosso portfólio; e reduzir as perdas técnicas e comerciais no negócios de distribuição. Esses são os pontos macro que nos levam a conversar com essa ambição que foi estabelecida. Em cima de cada um desses pontos têm ações concretas que foram submetidas para chegar a essa ambição em 2032. 

E na área social?

Uma parte forte é a diversidade e inclusão. Até 2022, temos a meta de ter 30% de mulheres no quadro geral da empresa – hoje esse número é de 22%. Em cargos de liderança – cargos de gerência executiva e diretoria – temos 14% e chegaremos a 20%. Hoje temos três mulheres no Conselho de Administração da empresa – 30% da composição, que é uma média muita acima do mercado. Também temos a meta de atingir 50% das contratações em grupos sub representados na sociedade (gênero, raça, LGBT, pessoas com deficiências e gerações 50 +). Também nos comprometemos com R$ 1 milhão para programas de desenvolvimento para grupos de diversidade e R$ 600 mil em programa de capacitação, para pensar empregos verdes e empregos novos.  

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Qual o impacto da pandemia no avanço do ESG?

A pandemia mostrou que tudo está interconectado. Uma coisa sempre depende muito da outra. E, de repente, estamos numa situação caótica no mundo todo. Nesse contexto de pandemia, as pessoas ficaram mais sensíveis em todos os níveis e escalas. Com isso, o tema ganhou mais relevância na agenda das empresas. A pandemia trouxe essa reflexão. E, no Brasil, escancarou as desigualdades, com mais gente desempregada, mas gente sem renda e mais gente passando fome.

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Um dos fatores que têm impulsionado o ESG no mundo corporativo é o retorno financeiro. Vocês já conseguem perceber esses benefícios já que os programas existem antes mesmo dessa cadeira ser criada?

Sim, mas esse retorno vem em várias frentes. Por isso é difícil integrar essa visão. Se for falar de resíduos, por exemplo, a gente consegue mais eficiência para a empresa trazendo impacto positivo para o meio ambiente. Percebemos que grandes gruposjá estabelecem alguns critérios e fazem uma demografia do quanto o potencial fornecedor trata as questões ESG. Isso passa a contar como desempate ou ganho de pontos num processo de licitação, por exemplo. Ainda precisamos explorar muito quanto isso vai trazer de retorno para a empresa. Quando buscamos uma solução e temos diversidade de repertório e ideias, o resultado é mais potente. Na área de crédito, a empresa também olha como ter acesso a crédito mais barato.

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