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Mico verde

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

O Banco Central corre o risco de amarrar o Brasil a um gigantesco mico global. A longo prazo, reservas em dólares podem ser um perigo - advertem autoridades do mundo inteiro, e não meros defensores de ideologias alternativas. Ontem, por exemplo, as autoridades do banco central russo avisaram que vão se desfazer de posições em dólares. Logo se soube que se trata de uma troca de US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos por obrigações do Fundo Monetário Internacional (FMI), operação que também o Brasil está fazendo. Em outros tempos, uma declaração desse tipo, por qualquer autoridade que fosse, não apontava para nenhuma consequência relevante. Mas bastou o anúncio para que os juros de longo prazo dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os T-Bonds de 30 anos, voltassem a subir no mercado. Também ontem, o mais respeitado comentarista econômico do mundo, Martin Wolf, advertia na sua coluna do Financial Times de Londres que o calote dos Estados Unidos parece inevitável e que essa decisão produziria encrenca enorme em países que detivessem fortes reservas em títulos dos Estados Unidos. Igual preocupação está sendo manifestada por outras autoridades de alto quilate. Em março, o presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, pediu que os responsáveis pelo futuro da economia do mundo providenciassem nova moeda internacional de reserva porque o dólar já não oferece a mesma credibilidade de antes. E, na semana passada, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, fez duríssimas críticas aos bancos centrais das principais potências do mundo (Federal Reserve, dos Estados Unidos; Banco Central Europeu; e Banco da Inglaterra) por suas políticas monetárias excessivamente frouxas que colocam em risco a saúde das moedas que estão obrigados a defender. A origem do problema está nos gigantescos desequilíbrios comerciais e financeiros. De um lado, há países com enormes déficits em suas contas com o resto do mundo (balanço de pagamentos), como os Estados Unidos e a União Europeia, e, de outro, países fortemente superavitários, como China, Rússia, Índia, Japão, Brasil e alguns grandes exportadores de petróleo. A única solução para isso é a de que as grandes potências voltem a exportar e a fazer poupança e, ao mesmo tempo, que as potências emergentes, especialmente a China, aumentem fortemente o consumo interno, o que também significa reduzir drasticamente sua poupança. Como até agora não foi tomada nenhuma providência de vulto para reequilibrar os fluxos de pagamento, vamos caminhando quase inexoravelmente para uma situação insustentável, em que os países ricos estarão impossibilitados de continuar pagando suas contas e os países emergentes ficarão com um esplendoroso mico na mão. Essa questão não é mero exercício de aprendiz de altas finanças. Ela remete imediatamente para perguntas cruciais: A partir de que ponto não se tornará temerária (se é que já não se tornou) a atual política de formação de reservas do Brasil? E, ante a eventual resposta de que é preciso parar por aí, o que fazer para evitar a forte valorização do real diante do dólar? Confira Surpreendeu - A decisão tomada ontem pelo Copom de cortar os juros básicos (Selic) em 1 ponto porcentual ao ano não seguiu a aposta majoritária do mercado. O placar dividido parece indicar que os próximos cortes serão menores.

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