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Microcrédito sem juros empurra finanças islâmicas

Estudo mostra que associações rotativas de crédito, nas quais os membros usam o dinheiro sem pagar juros, podem ajudar economia dos países muçulmanos

Por ECONOMIST.COM
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As iniciativas de desenvolvimento fizeram muito para facilitar o acesso dos pobres ao crédito e ajudá-los a poupar. Também explicam o recente boom nas finanças islâmicas - produtos que não envolvem o pagamento de juros por questões religiosas. Existe alguma maneira de unir os conceitos e ajudar os muçulmanos mais pobres do mundo? Um estudo recente publicado na revista 'Journal of Economic Behaviour and Organisation' indica que uma solução seria oferecer produtos financeiros que não envolvam o pagamento de juros. Os muçulmanos de todo o mundo em desenvolvimento se encontram particularmente expostos à exclusão financeira. Eles tendem a ser excluídos dos sistemas financeiros formais, numa proporção que chega a 90% no Paquistão. Isso traz consequências ruins. Nos seis países de maior população muçulmana (Indonésia, Índia, Paquistão, Bangladesh, Egito e Nigéria), meio bilhão de pessoas sobrevive com menos de US$ 2 por dia. O estudo analisa o que os doadores podem fazer para melhorar o microfinanciamento para os muçulmanos pobres. Conceder empréstimos com juros é difícil, e isso levou os economistas a conceberem novo plano. A ideia é reforçar as associações rotativas de crédito e depósito (Rosca, na sigla em inglês), amplamente usadas no mundo em desenvolvimento. Essa associações são diferentes entre si, mas possuem a mesma estrutura. Alguém que não precisa de dinheiro num determinado momento faz um depósito numa conta conjunta: esse montante maior é então redistribuído para aqueles em necessidade (espera-se que, depois de se beneficiarem dos recursos do grupo, os membros devolvam o favor posteriormente). A ideia é facilitar para todos a tarefa de poupar: ninguém desperdiça dinheiro com compras superficiais quando há outra pessoa usando o mesmo dinheiro. Também é possível investir o dinheiro recebido de outros membros. O modelo pode ser atraente para os muçulmanos porque a pessoa que recebe dinheiro emprestado raramente paga juros. Em vez disso, podemos entender como "juros" o dinheiro pago como contribuição para outros membros em outros momentos (o mesmo vale para os custos administrativos). Às vezes, as associações não funcionam: há quem não siga contribuindo com outros depois de receber uma bolada de dinheiro. Esses problemas de "deserção" são tão generalizados que uma altíssima proporção de poupadores admitem ter perdido dinheiro usando essas associações mútuas. Para superar esses problemas, os economistas introduzem um banco nessa mistura. O banco garante os pagamentos a um membro da Rosca que continue a fazer seus pagamentos em dia. Os inadimplentes se tornam devedores do banco, ao qual terão de pagar juros. Por motivos religiosos, muitos se esforçam para evitar tal desfecho. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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