Milionários buscam exclusividade

Grifes famosas já não atraem tanto quanto itens de acesso restrito, roteiros personalizados e o conforto de jatinhos

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Por Adriana Carranca
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Esqueça Louis Vuitton, Rolex, Moët & Chandon, Audi... Se a sua intenção é parecer milionário, será preciso um pouco mais de esforço do que exibir marcas de luxo, adquiridas em suaves prestações. O mundo viveu um período único de prosperidade, que pode até estar ameaçado pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, mas que até agora só fez aumentar o número de ricos e o tamanho das fortunas. Eles formam uma nova casta de milionários a quem os velhos símbolos de status já não são diferencial. E buscam um tipo de consumo cada vez mais exclusivo. Esse universo muito particular foi desvendado pelo economista Robert Frank, colunista do Wall Street Journal, que dedicou os últimos 12 anos a estudar o comportamento de milionários americanos. Os resultados estão em seu livro, Richistan (em português, Riquistão). O crescimento da economia global fez nascer um mundo paralelo dos ricos. Com o avanço da tecnologia e a facilidade de locomoção, eles formaram uma comunidade mundial. Estudo da Cap Gemini e Merril Lynch mostra que o número de milionários no mundo dobrou na última década. No Brasil, em 2006, já eram 120,4 mil aqueles com mais de U$ 1 milhão, 10,2% mais que em 2005 - crescimento maior do que a média mundial, de 8,3%. A última edição da lista dos mais ricos do mundo, da revista Forbes, inclui um recorde de 19 brasileiros. "Em um mundo globalizado, os milionários se comunicam, freqüentam os mesmos ambientes e compartilham os mesmos hábitos de consumo em todo o mundo", diz Florian Scheibmayar, diretor de desenvolvimento da Cap Gemini. Isso inclui jatos, iates, vinhos raros, altíssima gastronomia para um jantarzinho particular, viagens incomuns, o conforto e a qualidade de sempre, mas com muita, muita discrição. Marcas, sim, mas aquelas avessas à propaganda tradicional - justamente para não atrair um público, digamos, indesejável - e oferecem edições limitadíssimas. Coisas como os relógios Frank Müller, com edições limitadas de 28 unidades por modelo e vendas sob encomenda. No Brasil, foram vendidos mais de uma centena de Frank Müllers, entre os quais um modelo feito sob medida para um empresário que queria um igual ao do Sultão do Brunei, porém sem diamantes. Pagou "apenas" U$ 100 mil. "Só não aumenta mais o consumo de alto luxo no Brasil por causa da criminalidade", diz Nielsen Cohn, da relojoaria Nielsen e amigo pessoal de Müller. Nielsen acaba de fechar sua loja dos Jardins, região nobre de São Paulo, porque os clientes queriam maior discrição e serviço personalizado - hoje, atende numa casa sem placa na porta e só com hora marcada. "Quem sustenta as marcas de luxo, hoje, é a classe média. Os muito ricos querem discrição e exclusividade. Eles vivem em outro universo, absolutamente restrito", diz o consultor Carlos Ferreirinha. Os "habitantes" do Riquistão viajam em jatos próprios, passeiam em lanchas acima de 300 pés e dirigem o próprio Maybach. Apesar de liderar o mercado de automóveis super-luxo na América Latina, ainda não foi vendido nenhum Maybach no Brasil. "O Maybach foi descontinuado na década de 1960, mas voltou a ser produzido no fim dos anos 1990 porque os clientes pediam algo mais exclusivo que um Mercedes. Quando a sua conta bancária pode comprar qualquer coisa, você quer o que ninguém tem", diz Rogério Montagner, do marketing de produtos da DaimlerChrysler, dona das marcas Mercedes e Maybach. "Mas o Maybach é um clássico dos negócios, para impressionar clientes. É o carro de Donald Trump. Aqui no Brasil, seu concorrente é o helicóptero." O prazer de dirigir fica para os fins de semana, por isso a preferência brasileira por esportivos. No lugar do Maybach, os brasileiros já compraram duas unidades Mercedes-Benz SLR McLaren, de valor similar. O preço dessas máquinas pode chegar perto dos R$ 3 milhões. O Brasil tem frota de 1,5 mil aviões executivos, a terceira maior do mundo. A quarta edição da feira do setor, que terminou em 11 de agosto no Aeroporto de Congonhas, teve faturamento recorde de U$ 200 milhões em plena crise aérea. Há duas semanas, um executivo paulista de um banco privado convidou um cliente para um rotineiro almoço de negócios. Ao invés de levá-lo a um restaurante estrelado em São Paulo, decolou com o cliente em seu jato particular para comer camarão em uma praia reservada de Porto Seguro. Saíram ao meio-dia e às 15h30 estavam de volta. Levantar vôo com um jato executivo custa, no mínimo, US$ 4,5 mil. No percurso, fecharam negócio de U$ 10 milhões. "Esse tipo de cliente começa a experimentar onde os outros terminam", diz David Marcovitch, presidente da Moët Henessy, braço de bebidas do grupo francês LVMH, dono de 50 marcas, como Louis Vuitton. A champagne Krug Cloz Du Mesnil teve apenas 24 garrafas destinadas ao Brasil, vendidas, a R$ 2 mil cada. Há poucos meses, a LVMH levou um grupo de brasileiros para uma degustação na França. Entre eles, estava o empresário Marcos Campos, que aprendeu a colher as uvas e a fazer o próprio vinho. "O luxo nem sempre está nas coisas caras. São essas experiências de vida que valem realmente a pena", disse o empresário Álvaro Garnero, que lançou em junho o programa 50 por 1, no qual mostra suas experiências mundo afora. "Meu avô - o empresário Joaquim Monteiro de Carvalho, que trouxe a Volkswagen para o Brasil - me dizia: menos é mais."

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