Quando Mariana Elmais, de 26 anos, decidiu entrar no programa de mentoria do Citi Brasil seu principal objetivo era fazer seu parceiro enxergar o mundo dos millennials pelos seus olhos. Analista da área de produtos do Citi, ela entende que sua geração é mais ansiosa e imediatista, mas que também sofre com os rótulos. “Crescemos com o celular nas mãos e bombardeados de informações por todos os lados”, diz. “E, às vezes, há dificuldade para colocar as ideias em prática.”
Para se preparar para o primeiro encontro com o executivo Miguel Queen, corresponsável pela área de corporate banking do Citi, estudou vários assuntos, de inovação a liderança. Mas o objetivo de Queen, de 41 anos, era aperfeiçoar a comunicação com os mais jovens e conseguir elevar o índice de retenção desses profissionais no banco. “Essa geração é muito impacientes, mas a vida corporativa não é imediata. Paciência é algo que precisa ser desenvolvido por esses jovens”, diz ele, que está no banco há 14 anos.
Os dois profissionais estão apenas no segundo encontro, mas já começam a compreender o mundo um do outro. “É uma geração difícil de impor qualquer coisa sem um propósito”, diz Queen. A compreensão tem sido mútua: “Temos de aprender a lidar com pessoas diferentes e ver o lado delas”, afirma Mariana.
Para Mariana, que cresceu numa família de bancários e sempre quis trabalhar no setor, a experiência com Queen também tem ajudado a compreender a geração mais sênior do banco. “Meu objetivo é criar uma comunicação mais fluida entre as gerações”, diz ela, que trabalha no Citi há três anos.
No banco, além de Queen e Mariana, outras 18 duplas têm passado pela mesma troca de experiência. O programa, que começou em fevereiro e terá seis meses de duração, tenta discutir outros pontos importantes dos dias atuais, como inovação e diversidade e não apenas diminuir a distância entre os funcionários de idades diferentes. “Temos de encontrar a forma mais fácil de nos comunicar com os diversos trabalhadores”, diz Felipe Cotta, responsável por recursos humanos no Citi.
Fone de ouvido
Aos 47 anos, o executivo Luis Hamilton lidera uma equipe diversificada na farmacêutica Sanofi. Diretor de Tecnologia da Informação e Soluções para a América Latina da empresa, ele lida com profissionais de várias gerações, de um funcionário com 42 anos de empresa a jovens de 22 anos de idade. “Com um grupo tão diversificado, comecei a perceber que a comunicação tradicional não estava alcançando os objetivos”, afirma. “Foi aí que pensei que uma pessoa de fora, sem viés e com perspectivas diferentes pudesse me ajudar.”
Desde o ano passado, ele está sendo “treinado” por Thamyris Campos, de 31 anos. Ela é especialista em assuntos regulatórios da área industrial da Sanofi e fica na unidade de Campinas no interior de São Paulo. Ele fica na capital. Por causa da distância, eles começaram o programa com uma reunião por mês. “Hoje conseguimos falar pelo menos uma vez por semana, seja pessoalmente ou por telefone”, afirma Thamyris.
Ela diz que a primeira meta dos dois foi reunir o time de Hamilton para entender como a equipe via a comunicação do departamento. A partir daí, Thamyris começou a passar vários desafios para o executivo e até tarefa de casa. “Não é que estava tudo errado, mas precisava olhar por outros ângulos para melhorar a comunicação”, diz Hamilton, que adotou novos canais para conversar com sua equipe, inclusive pelas redes sociais.
Segundo ele, o programa de mentoria de Thamyris, que vai até setembro, ajudou a entender um pouco mais do mundo dos millennials. Para Hamilton, a característica dessa geração é a informalidade e a simplificação – bem diferente do perfil dos profissionais de TI, considerados mais introvertidos. O executivo mudou até o estilo de se vestir no trabalho. “Agora até uso jeans.”
Do outro lado, Thamyris também está contente com o retorno do programa e a troca de experiência. Ela acredita que as reuniões ajudaram a diminuir a barreira que existe entre as gerações. “As pessoas precisam entender que a gente consegue usar o fone de ouvido e fazer um trabalho bom”, diz ela.