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Ministro admite "relaxamento" no controle da aftosa

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, admitiu na quarta-feira que houve "relaxamento" no controle da febre aftosa no Brasil. Sem citar nomes, ele lembrou que já havia alertado para os riscos do reaparecimento da doença. "Eu tenho dito há muito tempo: o problema da aftosa não é saber se vai ter; é saber quando e onde vai aparecer. Eu tinha medo porque achava que havia um relaxamento da situação", disse ao comentar o momento ruim pelo qual a agricultura vem passando nos últimos meses. Para ele, "o problema da crise é que, economicamente falando, mata gente inocente". "Numa crise agrícola como a aftosa, tem gente boa, inocente, que paga por fatores sobre os quais ela não tem a menor responsabilidade", desabafou o ministro. À noite, em entrevista ao Jornal da Globo, Rodrigues garantiu a qualidade da vacina que foi aplicada, mas questionou sobre a possibilidade de a aplicação não ter sido bem feita. "Possivelmente, na conservação da vacina é que pode ter havido algum problema", disse o ministro sobre o fato de animais já vacinados terem apresentado o sintoma da doença. Ele questionou, por exemplo, se foi observada a temperatura de conservação da vacina entre 2 e 8 graus centígrados. "E isso é que tem que ser definido com clareza para que a origem do foco seja identificada e, a partir daí, as ações sejam tomadas em relação ao futuro", salientou. "De qualquer maneira, todas as regras estabelecidas pela OIE (Organização Internacional de Epizootias) foram cumpridas com rigor pelo governo brasileiro." Paraguai - O ministro evitou confirmar se o Paraguai foi a origem dos animais doentes. "Não se pode afirmar isso, porque o vírus que surgiu no Mato Grosso do Sul é recorrente na região", argumentou Rodrigues sobre as denúncias de que a aftosa teria chegado ao Estado por intermédio de animais que atravessaram a fronteira com o Paraguai. Disse também ter ficado aliviado com o fato de o vírus encontrado não ser desconhecido na região. "Nós tínhamos uma preocupação muito grande de que fosse uma cepa nova de vírus, mas é o mesmo vírus que existe no Paraguai e já aconteceu também em várias regiões do Brasil, da Argentina e do Uruguai", prosseguiu o ministro. "Se veio do Paraguai ou não, é uma discussão que teremos que resolver na área policial. E estamos cuidando disso." Eficácia - Roberto Rodrigues garantiu que a febre aftosa será banida do Brasil, mas não quis arriscar um palpite sobre até quando o País sofrerá com as barreiras levantadas por países importadores. "Fundamentalmente é preciso um grande compromisso de toda a sociedade brasileira - e não apenas dos produtores - na direção da vacinação efetiva daqui para frente." Ações conjuntas - Em conversa de mais de três horas com representantes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipes) ficou definido um conjunto de ações para tentar reverter os embargos às importações de carne bovina do Brasil por mais de 40 países. Entre elas, está a criação de um sistema de informação centralizada no Ministério, que passará a ser a única fonte de informação para o setor privado, embaixadas e imprensa. Também será estabelecida uma estratégia de comunicação internacional para demonstrar as medidas que o Brasil vem adotando para controlar a aftosa. Outra decisão será dar um tratamento especial aos países que suspenderam as compras de carne de todas as regiões do Brasil. "O banimento do País de forma alguma justifica o risco que eles estão avaliando pela situação de controle que o Brasil apresenta hoje", disse o diretor-executivo da Abiec, Antônio Camardelli, citando como exemplo o Chile. Camardelli afirmou que os reflexos da aftosa nas exportações brasileiras, já sentidos em outubro, devem ser piores em novembro, provocando prejuízo de US$ 100 milhões. "O olho do furacão deve se estabelecer em novembro." Segundo a Abiec, a perda de exportações em outubro, em relação a setembro, foi de US$ 68 milhões.

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