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Mitos cercam aumento da produtividade no País

Para pesquisadores do Ibre/FGV, maior escolaridade não foi suficiente para tornar o Brasil mais competitivo nem a formalidade reflete eficiência

Por Douglas Gavras
Atualização:
A arquiteta Isabel do Carmo decidiu montar seu proprio negócio com arranjos de flores Foto: Gabriela Biló

O aumento no número de anos de estudos não tem sido suficiente para incrementar a produtividade do País. A relação direta entre ensino e ganho produtivo é um dos mitos para explicar a estagnação do Brasil no ranking da produtividade, segundo análise feita por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas. 

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Outras mistificações questionadas pelos economistas são de que só o aumento da formalidade basta para melhorar a eficiência e que o País já resolveu seus problemas de improdutividade em alguns setores. 

No livro Anatomia da Produtividade no Brasil, os economistas reconhecem que os investimentos públicos em educação cresceram sucessivamente nas últimas décadas. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), os gastos passaram de 3,8%, em 1994, para 6,0%, em 2014. Consequentemente, houve um grande aumento da escolaridade no período, por exemplo, com um maior número de pessoas ingressando no ensino superior.

Uma delas é a capixaba Monique Morozin, de 23 anos. Ela se formou em engenharia de Petróleo e Gás no meio da crise que pôs a Petrobrás no centro dos escândalos de corrupção e atingiu em cheio o setor de petróleo. Sem emprego na área, ela voltou a ajudar os pais, que vendem farinha de mandioca em uma feira de produtores locais em Guarapari (ES).

“Quando comecei o curso, a gente imaginava que era uma chance de mudar a realidade da família. Sempre ajudei os meus pais na produção e na venda dos produtos na feira, mas quando ganhei a bolsa integral para estudar engenharia, achava que isso mudaria nosso padrão de vida.”

“Não é uma questão de reduzir o valor do investimento em ensino, mas o que o Brasil fez em termos de educação só atacou parte do problema, a gente tem a questão da baixa qualidade e o elevado abandono do ensino médio. Ao contrário do que se imaginava, o aumento do nível educacional praticamente não se reverteu em ganhos de produtividade”, diz Bruno Ottoni, um dos coautores do estudo.

Para o economista, mesmo que o brasileiro passe mais tempo em sala de aula, isso não será aproveitado se o País não tiver um ambiente de negócios que gere empregos de qualidade.

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No caso da arquiteta Isabel do Carmo, de 28 anos, a queda no número de projetos durante os anos de crise deu um empurrão para que ela montasse a Flor da Cidade, uma microempresa de arranjos que oferece pacotes de assinatura. “Com o mercado em baixa, acabei descobrindo uma nova vocação.” 

Ottoni lembra que o período de crise ajudou a diminuir os ganhos no padrão de vida: a alta média anual de 0,2% da produtividade do trabalho de 1980 a 2017 se refletiu em aumento de 0,7% ao ano da renda per capita.  Não quero ser grande. O estudo do Ibre aponta, ainda, que uma das causas para o Brasil amargar baixa produtividade é o grande número de pequenas empresas e de empreendedores informais. Os dados mais recentes do mercado de trabalho apontam que a volta do emprego é impulsionada pelas micro e pequenas empresas.

“A empresa existe desde 1971. Se o ambiente de negócios fosse menos difícil, a gente poderia investir mais e diversificar o negócio. Mas a gente não tem condição, no atual cenário econômico, de planejar estratégias mais longas”, conta Sérgio Kyrillos, sócio da fábrica de tesouras e grampos de cabelo La Lupe.

Sem condições de competir, fazer grandes aportes de capital e produzir em maior escala, o pequeno empresário também é incentivado a não crescer para não deixar de ser enquadrado em regimes diferenciados de tributação, como o Simples.

No caso da informalidade, a produtividade agregada do setor formal é cerca de 3,4 vezes superior ao do informal, segundo dados de 2009. A realocação significativa do emprego do setor informal para o formal explica 87% do ganho de produtividade agregada entre 2003 e 2009.

Ilhas produtivas. Um outro mito quando se discute a produtividade, explica Armando Castelar, também do Ibre/FGV, é o de que o País tem setores produtivos. Segundo o economista, o Brasil tem ilhas de produtividade em diferentes setores, com exemplos de empresas e produtores agropecuários que se destacam.

“O Brasil deu um exemplo mundial ao deixar de ser um país de insegurança alimentar para se transformar em um dos maiores players. Isso foi conquistado com tecnologia, com aumento produtivo”, diz Celso Moretti, diretor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Como a maioria das propriedades é familiar, ainda há muito espaço para aumentar a produtividade. O Matopiba (região entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) tem áreas de pastagens degradadas que podemos recuperar.”

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