02 de maio de 2015 | 02h03
Este é um comportamento atípico. Normalmente, quanto menor a taxa de desemprego, maior a taxa de participação, porque esta última depende da relação entre o custo e o benefício de estar empregado. Quanto maior essa relação, menor a taxa de participação. Como quanto maior a taxa de desemprego, menores são os salários reais e mais difícil é de encontrar um novo emprego, o benefício de estar empregado (salário real) diminui e o custo de procurar emprego (dificuldade de conseguir emprego) aumenta, reduzindo o incentivo para que o trabalhador procure um novo emprego, quando fica desocupado.
Várias conjecturas têm sido aventadas para explicar esse comportamento. Entre elas, a redução das taxas de juros dos empréstimos universitários, o aumento dos valores das transferências de renda e o aumento do salário real do chefe da família. Caso essas explicações estejam corretas, quando a queda da atividade e o aumento do desemprego começarem a afetar negativamente o salário real e a aceleração da inflação reduzir o valor real das transferências, devemos esperar uma reversão da trajetória de queda da taxa de participação e um aumento rápido da taxa de desemprego.
Como a taxa de inflação é negativamente associada à taxa de desemprego (principalmente via inflação de serviços), o aumento rápido desta última significa que o esforço de política monetária necessário para levar a inflação para a meta (4,5%) poderá ser menor do que em outros episódios de estabilização.
Entretanto, existe uma explicação alternativa para a queda da taxa de participação que, caso esteja correta, inverte a conclusão acima sobre a política monetária. A conjectura (e evidências empíricas dão algum suporte a ela) é que a queda da taxa de participação decorre do aumento do custo de estar empregado. Com o aumento do fluxo de veículos nas grandes cidades, a ausência de investimento em infraestrutura urbana e a deterioração da qualidade do transporte coletivo, o tempo que um trabalhador leva entre casa e trabalho - que nas grandes cidades pode chegar de 2 horas a 3 horas - e o desconforto no trajeto aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Com isso, o custo, em termos de perda de bem-estar, de trabalhar, também cresceu, e não foi compensado pelos aumentos de salários reais. O resultado é que mais pessoas estão preferindo ficar em casa a trabalhar.
Neste caso, como a mobilidade urbana não deve melhorar significativamente no curto prazo, o crescimento do desemprego e a queda dos salários reais vão aumentar o custo e reduzir o benefício de trabalhar, o que poderá manter a taxa de participação em queda ou, na melhor das hipóteses, estabilizá-la ou mantê-la em leve crescimento (afinal, alguém na família vai ter de trabalhar, mesmo com a redução do bem-estar).
A consequência é que a queda do nível de atividade necessária para fazer com que a taxa de desemprego leve a taxa de inflação para a meta - ou seja, a taxa de desemprego que reduz a taxa de inflação - terá de ser maior do que se a taxa de participação aumentasse, o que exigirá uma política monetária ainda mais contracionista e juros reais mais elevados do que a que tem sido antecipada pelos analistas e pelo Banco Central.
* Professor titular do Departamento de Economia da PUC/Rio, é economista da Opus Gestão de Recursos
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.