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Modelo de abertura de capital da Aura pode ser replicado por outras empresas

Em meio à crise e considerando a volatilidade do mercado, fabricante de ouro fez uma oferta destinada aos investidores institucionais e arrecadou R$ 790 milhões

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:

O sucesso da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Aura Minerals, que estreou o modelo de esforços restritos em uma abertura de capital no Brasil, deverá abrir a porta para outras empresas, que já olham atentamente para essa alternativa, segundo fontes de mercado. Já há companhias, inclusive, que estão trabalhando para realizarem seus IPOs com esse modelo. Se de um lado o ponto negativo é que investidores pessoas físicas ficam de fora da oferta, de outro ela pode ser colocada de pé de forma muito rápida, permitindo que, em momentos voláteis, como o atual, em meio a uma pandemia, o IPO consiga de desviar de ventos contrários.

Aura Minerals é a primeira produtora de ouro da Bolsa brasileira. Foto: Ilya Naymushin/Reuters

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No caso da produtora de ouro, a escolha nada convencional por uma oferta destinada aos investidores institucionais teve como pano de fundo exatamente o momento de extrema volatilidade, mesmo que há semanas os mercados estejam respirando mais tranquilamente e com viés de alta, muito por conta dos trilhões de dólares que foram injetados nas economias pelos bancos centrais. A empresa chegou a fazer o pedido de uma oferta com esforços amplos de distribuição - um IPO pela regra tradicional - em março, mas mudou de estratégia após a pandemia, mudança de trajetória que deu certo.

Após arrecadar R$ 790 milhões, uma fonte de mercado disse que a oferta da Aura chamou atenção de outras empresas, que já pensam nessa possibilidade, para lançar um IPO mesmo em um momento de maior volatilidade. "Em uma oferta que não depende do varejo é uma boa opção. E nas operações são sempre os investidores institucionais que definem o preço", destaca. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado de capitais no Brasil, está acompanhando de perto os desdobramentos dessa emissão, comentou uma segunda fonte.

O sócio da área de Mercados Financeiro e de Capitais do BMA, Felipe Prado, afirma que esse modelo de oferta será uma opção para aquelas empresas que identificam, antes do lançamento da oferta, o interesse suficiente entre investidores institucionais. Assim, ao se lançar a oferta, a demanda já está garantida. Ele lembra que, nesse processo, para um IPO por meio da instrução 476, é preciso que a empresa, de forma prévia, tenha o registro na CVM na categoria A, que é aquele em que é permitido emitir todos os tipos de valores mobiliários, incluindo, é claro, ações. Grande parte das ofertas subsequentes (follow ons) são feitos por meio dessa modalidade, mas as ofertas iniciais ainda não tinham feito a estreia.

O período de roadshow no caso da Aura foi bastante rápido: durou apenas uma semana - em ofertas tradicionais duram no mínimo três vezes mais. Isso também foi possível por conta das reuniões virtuais que ganharam o mundo corporativo como exigência da quarentena.

A oferta de 'esforços restritos', regulada por instrução própria da CVM, é permitida desde 2014 - antes disso era apenas uma opção para os papéis de dívida corporativa, as debêntures. Nesse tipo de oferta, os bancos podem oferecer as ações para um grupo limitado de investidores: 75, mas apenas 50 deles podem entrar na oferta. Para os estrangeiros, por outro lado, não há limitação. A oferta, assim, não é destinada às pessoas físicas, e no caso de um IPO esse público terá acesso às ações apenas após um período de 18 meses. Na oferta da Aura, conforme fontes, foram necessárias conversas com o regulador e ainda com a B3, sobre as regras e a interpretação das mesmas.

Prado, do BMA, lembra que esse prazo de restrição de compra pelas pessoas físicas pode ser encurtado caso a empresa faça uma oferta registrada (a tradicional 400, com esforços amplos de distribuição). Se assim o fizer, as pessoas físicas passam a ter acesso a esses papéis antes de 18 meses.

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