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Modelo defendido por Duhalde é antítese do argentino

Por Agencia Estado
Atualização:

A defesa do modelo econômico chileno, feita na manhã desta terça-feira pelo presidente argentino, Eduardo Duhalde, causou estranheza. Por seguir um modelo liberal, com política fiscal rígida e comércio externo aberto, além de ter um BC independente e um sistema de câmbio flutuante, o Chile é quase uma antítese da Argentina, principalmente sob o comando do peronismo. "A afirmação de Duhalde me pareceu um discurso fora do contexto", disse o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sobre o súbito interesse argentino pela experiência do Chile. "Num momento de luta pela sobrevivência, essa discussão é extemporânea", reforçou Mauro Schneider, estrategista para a América Latina do ING Barings. Os primeiros sinais sobre o modelo macroeconômico da Argentina, dados pelo novo governo desde sua posse, não indicam que o Chile será um referencial a ser seguido. "A Argentina ainda precisa dar vários passos básicos para criar pilares macroeconômicos", disse o estrategista do HSBC Bank do Brasil, Dawber Gontijo, descartando que a experiência chilena seja aplicada na Argentina. Ao contrário do Brasil e da Argentina, o Chile fez a transição econômica antes da política, ainda sob a égide do regime militar de Augusto Pinochet, o que deu mais velocidade à transformação econômica, já que a crítica estava cerceada. Sobre pilares monetário, fiscal e cambial fortes, o Chile cresceu 3,1% em 2001, e o governo projeta um crescimento de 3,5% neste ano, que viria de exportações fortes puxadas pela recuperação do comércio internacional esperada para o início do segundo semestre. Eduardo Duhalde quebraria um de seus pilares de sustentação no governo - a indústria argentina -, se adotasse como política a que elogiou nesta manhã. Ele disse que o modelo econômico chileno "combina muito inteligentemente a proteção de seus interesses com a abertura". O ex-presidente do BC Gustavo Loyola ponderou que a pauta de exportação chilena é pouco diversificada, concentrada em cobre, frutas, peixes e vinhos, sendo que o minério é o carro-chefe. "Não imagino que Duhalde tenha tido que vai privilegiar a agroindústria argentina", afirmou o ex-BC, imaginando exportação de trigo, soja e carne bovina, em detrimento de produtos industrializados. "Se isso fosse feito, a nova política argentina quebraria vários setores do país", concordou o estrategista do HSBC Bank do Brasil, Dawber Gontijo. A liberalização do comércio exterior, além de produzir mais desempregados, criaria dificuldades no âmbito do Mercosul, já que é preciso anuência do bloco para a redução das tarifas. ?Do ponto de vista meramente político, seria uma proposta suicida, que iria contra uma das forças que sustentam o governo Duhalde e também contra todo o ideário nacionalista do Partido Justicialista, que enfrentará uma eleição presidencial em 2003, carregando nas costas o peso das medidas econômicas que forem adotadas neste ano.? O estrategista do ING Barings para a América Latina, Mauro Schneider, cogitou da possibilidade de Duhalde estar tentando apenas sinalizar um "rumo" econômico para o país no futuro, na medida em que o novo governo vem sendo duramente cobrado por não ter planos. "Pensando no longo prazo, não custa sonhar", afirmou o economista, lembrando, porém, que o agravamento da crise argentina produziu recentemente "ondas de protecionismo", o que dificultaria mudanças no sentido contrário. Leia o especial

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