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Moeda do FMI pode ser opção contra pobreza

Por Agencia Estado
Atualização:

O dublê de filantropo e ex-megainvestidor George Soros está encontrando uma receptividade razoável para a sua idéia de usar uma parte substancial de uma nova emissão de Direitos Especiais de Saque (DES) para aumentar o combate global à pobreza. "É uma das idéias mais exóticas (para aumentar o financiamento ao desenvolvimento), mas é financeiramente viável", disse hoje Mark Malloch Brown, diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (responsável pelos relatórios de desenvolvimento humano). Soros reconhece que a sua proposta é "complicada", mas está satisfeito com o fato de que até agora "ela não foi rejeitada" embora também não tenha ainda sido endossada por quem realmente importa: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os governos dos países ricos. O DES é uma moeda escritural emitida pelo FMI para seus países membros. Na prática, quando é emitido equivale a um aumento da liquidez global. É, portanto, como o próprio Soros disse numa apresentação em Monterrey na segunda-feira, o mais próximo que se pode chegar ao "lanche grátis", a expressão usada pelos economistas para a criação de dinheiro a partir de nada. Atualmente, uma nova emissão de DES, no valor equivalente a US$ 27 bilhões, está esperando apenas a ratificação pelo Senado dos Estados Unidos. Deste total, os países ricos receberão US$18 bilhões, sendo US$ 3,5 bilhões dos Estados Unidos. Sorossugere que esse dinheiro seja doado pelos países ricos para projetos de combate à pobreza. Os recursos seriam usados para financiar projetos concessionalmente (como doações, não como empréstimos). Excluindo-se os países mais ricos, os restantes não doariam a sua alocação de DES, mas a usariam para reforçar suas reservas, o que traria benefícios econômicos. Soros sugere a criação de um conselho independente de especialistas que selecionaria projetos de desenvolvimento, que competiriam entre si para entrar na lista escolhida, em termos de seriedade e eficácia. Mas os países doadores teriam a palavra final, ao escolher para qual projeto da lista a sua doação específica seria alocada. Soros não crê que a seleção dos projetos possa ser exclusivamente técnica. Para ele, é mais apropriado que a seleção dos projetos reflita de fato "as pressões políticas de países democráticos". Soros acha que o programa brasileiro de Bolsa-Escola é um bom exemplo de projeto que poderia ser financiado pelos DES dos países ricos. Ele disse que, se a escolha fosse sua, o Bolsa-Escola seria selecionado. A proposta de Soros de usar os DES está ligada ao objetivo maior de se cumprir os objetivos da Declaração do Milênio, endossada pelos 189 países membros da ONU em setembro de 2000. As metas são de, até 2015, reduzir pela metade o número de pessoas vivendo em pobreza absoluta, colocar todas as crianças do mundo na escola primária, cortar em dois terços a mortalidade infantil e em três quartos a mortalidade materna. Muitos já perceberam que, na toada atual, o mundo não atingirá nem de longe este objetivo. James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial (Bird) e Gordon Brown, chanceler do Erário (ministro da Fazenda) do Reino Unido, acham que é preciso duplicar, para US$ 100 bilhões anuais, a ajuda externa dos países mais ricos par os mais pobres, para se manter alguma chance de que as metas do milênio sejam atendidas. A proposta dos DES visa justamente aumentar as chances de se cumprir a Declaração do Milênio. Segundo Soros, Brown apoiou a proposta, mas a achou insuficiente. Um dos problemas da idéia é de que o ganho de recursos para o combate à pobreza acontece uma vez só, com a doação da possível nova emissão de DES. Os US$ 100 bilhões por ano a que se quer chegar, por outro lado, são recursos que têm de ser repostos a cada ano, no orçamento dos países ricos.

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