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Momento ainda é de cautela para o investidor

A queda das cotações do dólar e a intenção do BC em voltar a reduzir as taxas de juros não significam que o investidor deve abandonar a postura de cautela. Analistas recomendam aplicações mais conservadoras.

Por Agencia Estado
Atualização:

A alta da taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto porcentual - de 16,75% para 18,25% ao ano -, decidida na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom), com o objetivo de conter a escalada do dólar, alterou algumas perspectivas em relação aos investimentos. Mas, segundo os analistas, as principais dicas ainda são: observar o prazo em que o dinheiro ficará investido e verificar a tolerância que se tem ao risco. Em função destes dois fatores, o investidor fará sua opção de aplicação levando em conta o cenário econômico. O momento ainda é de cautela, pois existem muitas incertezas em relação às conseqüências do racionamento de energia, ao desenrolar da crise argentina e ao processo eleitoral em 2002. São questões sem solução no curto prazo e, portanto, deverão ter impacto na escolha de investimento feita agora. Dólar e fundos cambiais De acordo com analistas ouvidos pela Agência Estado, os fundos cambiais são os mais vulneráveis no curto prazo. Segundo o estrategista do Deutsche Bank, José Cunha, não há como estabelecer um parâmetro para a moeda norte-americana neste momento. Com a estratégia adotada pelo Banco Central (BC) em aumentar a oferta de dólares e títulos cambiais para conter pressões no câmbio, acredita-se que os ganhos neste segmento devem ficar mais reduzidos. No longo prazo, pesa a incerteza sobre qual será o limite de atuação do BC caso a pressão de alta volte a surgir. A redução de investimentos diretos para o País neste ano, assim como o saldo deficitário - importações menores que exportações - para a balança comercial são certos e, desta forma, é possível que haja escassez de moeda até o final do ano, se o BC não puder suprir a demanda. Além disso, caso haja algum fato novo negativo em relação à Argentina e à crise de energia, as grandes empresas e investidores podem voltar a aumentar a procura por dólares como forma de hedge (segurança). Diante deste cenário, há a incerteza de qual será a trajetória no longo prazo, ou seja, se haverá maior demanda ou maior oferta de dólares. Para o diretor de risco do banco Fator, José Carlos Santos, quem já tem recursos em dólar não deve se desfazer da carteira, pois trata-se de um patrimônio formado e não há nenhuma certeza de qual será o comportamento do dólar no médio e longo prazo. Para quem tem recursos novos, a orientação é não investir em dólar ou fundos cambiais, já que não há como prever se haverá lucros ou perdas e, portanto, o risco é muito alto. "Quem já está nos fundos cambiais deve ficar. Mas para entrar agora, o risco é alto", observa Álvaro Kafruni, diretor da área de fundos do Banrisul. Apenas quem tem dívidas em dólar ou pretende viajar ao exterior deve atrelar parte de seus recursos à moeda norte-americana como forma de proteção (hedge). Desta forma, mesmo se o dólar continuar recuando, o investidor conseguirá atingir seus objetivo. É importante lembrar que os fundos cambiais sofrem a incidência de 20% sobre o valor das cotas em reais, o que significa que um quinto da rentabilidade do dólar não é repassada ao investidor. DI e prefixados O cenário de incertezas requer que o investidor mantenha a atitude de cautela. Neste sentido, o fundo referenciado DI (pós-fixado), que acompanha as taxas de juros, é a aplicação mais recomendada para quem não quer correr riscos ou vai precisar do dinheiro no curto prazo. Com a alta da taxa Selic, as taxas ficaram mais altas no curto prazo. Com a colocação do viés de baixa, o que permite ao presidente do Banco Central reduzir os juros antes da próxima reunião e sinaliza que o governo tem a intenção de voltar a diminuir os juros, as taxas no mercado futuro recuaram um pouco. Ou seja, a diferença de ganho entre investir em uma aplicação pós-fixada ou prefixada ficou menor. "O investidor está deixando de ganhar menos por adotar a cautela ou, em outra visão, está ganhando menos por assumir um risco" afirma Santos do banco Fator. Ações A alta da Selic também produz reflexos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Isso porque, com o crédito mais caro, as empresas devem ter seus lucros reduzidos, o que será percebido no valor das ações. Porém, se o dólar ficar controlado e as taxas de juros voltarem a cair, este cenário poderá ser revertido rapidamente. Os analistas são unânimes em afirmar que apenas o dinheiro que não tem uma data definida para resgate deve ser aplicado em Bolsa. Desta forma, mesmo que as ações ainda levem um bom tempo para alcançar ganhos significativos, o investidor poderá esperar para efetuar o resgate. Para quem vai precisar do dinheiro no curto prazo, o risco é extremamente elevado. Kafruni, do Banrisul, afirma que as ações e os fundos formados por papéis de empresas são os mais vulneráveis às turbulências econômicas no curto prazo. "Os papéis mais afetados são os das empresas que estão sofrendo impactos da crise de energia", analisa. Também, segundo o executivo, as ações de empresas que têm dívidas em dólar vinham sendo afetadas pela escalada da moeda norte-americana. Alexandre Póvoa, diretor de investimentos do ABN Amro Asset Management para a América Latina, afirma que investidores que já estão com recursos em Bolsa devem manter, mas quem "está fora não deve entrar". "O racionamento ainda não está totalmente precificado na Bolsa e, quando estiver, os preços dos papéis podem cair e quem está fora vai poder comprar melhor". Lançamentos de fundos Kafruni, do Banrisul, avalia que o cenário de incertezas deve segurar o lançamento de novos produtos na área de fundos de investimentos. "É ruim lançar produtos em momentos de instabilidade, principalmente se o fundo possui uma parcela de renda variável", diz. Já Póvoa, do ABN-Amro, diz que o mercado tem de ser muito criativo neste momento para encontrar composições de fundos rentáveis.

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