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Montadoras chinesas vêm para o Brasil

Pelo menos três montadoras já negociam locais para suas fábricas

Por Raquel Landim
Atualização:

As montadoras chinesas preparam seu desembarque no mercado brasileiro com uma avidez capitalista que em nada lembra as companhias que surgiram após a revolução comandada por Mao Tsé-tung. Além da Chery, que acaba de lançar o utilitário esportivo Tiggo no País, a Build Your Dreams (BYD) e a Jianghuai Automotive Co. (JAC) têm planos concretos para entrar no Brasil nos próximos dois anos. Um escritório de advocacia brasileiro está assessorando outras duas fabricantes de caminhões chinesas, mas não revelou os nomes. "A JAC está muito confiante de que vai transformar o mercado brasileiro em sua base para a América Latina. Estamos, com sucesso, nos países em volta do Brasil", disse a gerente regional do negócio de caminhões leves, Sammi Shang. A BYD, que tem entre seus sócios o megainvestidor Warren Buffet, disse que "a competição com as montadoras tradicionais é forte no Brasil". "Mas estamos seguros que vamos atingir uma fatia considerável de mercado no futuro próximo." A estratégia chinesa é começar com importações, para testar o mercado, e logo depois instalar fábricas no País, utilizando peças vindas da China. Para as empresas, a presença local é importante para evitar os 35% de tarifa de importação de carros do Brasil, para ganhar a confiança dos consumidores e das concessionárias e se adequar às regras brasileiras. O grande diferencial das montadoras chinesas promete ser o preço. Na China, a JAC vende o Tongyue, motor 1.3, pelo equivalente a R$ 15 mil, enquanto o F3, da BYD, motor 1.5, sai por R$ 20 mil. O Tiggo, da Chery, é vendido hoje por R$ 49,9 mil no Brasil, mas custa R$ 26 mil na China. A montadora também quer trazer para o País o QQ, um compacto simples, motor 0.8, que custa apenas R$ 8,8 mil na China. Segundo Shang, a JAC já começou os preparativos para construir a fábrica no Brasil, por meio de investimento direto ou de uma joint venture com uma empresa local. "Estamos em contato com empresários brasileiros que demonstraram intenção de cooperar." O plano é terminar a radiografia do mercado em 2010 e instalar a fábrica em 2011. A executiva não relevou que modelos pretende levar para o País, mas a JAC é a maior exportadora de caminhões leves da China. Por meio de seu departamento de marketing, a BYD disse que "a estratégia final ainda não está confirmada, mas o primeiro passo deve ser a importação, seguida da produção local, em uma segunda fase". A empresa também planeja concretizar sua entrada no Brasil entre 2010 e 2011. Um das principais áreas de pesquisa da BYD, que começou como fabricante de baterias e só entrou no mercado automotivo em 2003, é o carro elétrico, lançado em 2008. Com uma fábrica no Uruguai, a Chery é a pioneira do mercado brasileiro e dispõe de 11 concessionárias no País para vender o Tiggo. O objetivo é ampliar o número para 55 até o fim do ano. A companhia planeja construir uma fábrica no Brasil, que pode consumir investimentos de US$ 500 milhões a US$ 700 milhões. As montadoras chinesas estudam o mercado brasileiro há algum tempo. Agora, conversam com os Estados para obter vantagens fiscais. Segundo o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, Rio, Bahia e Ceará disputam essas montadoras. Em recente viagem a China, o governador do Rio, Sérgio Cabral, se encontrou com a diretoria da JAC. O gerente-geral da companhia chinesa deve ir ao Brasil em outubro. De acordo com José Ricardo dos Santos Luz, representante do escritório Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra em Pequim, que assessora duas fabricantes de caminhões interessadas no Brasil, as empresas chinesas buscam se adaptar à legislação brasileira, mas muitas vezes esbarram na burocracia. Presentes no Brasil desde a década de 50 e donas de um lobby poderoso, as montadoras europeias e americanas vão tentar dificultar o desembarque das marcas chinesas. Mais recentemente, também se instalaram no País montadoras coreanas e japonesas. "No Brasil, todas as montadoras vieram de fora. Se tiver mais uma origem, qual é o problema? As multinacionais querem defender como seu o mercado brasileiro", disse o ex-embaixador da China no Brasil, Chen Duqing. Chery, BYD e JAC têm fôlego financeiro para a empreitada no Brasil porque são, respectivamente, a sétima, oitava e nona maiores montadoras chinesas, com vendas que devem atingir entre 300 mil e 450 mil veículos este ano cada uma. São as três maiores "independentes" do mercado chinês - a denominação para as montadoras com tecnologia 100% local. As líderes de mercado Saic (Shanghai Automotive Industry), FAW (First Automobile Group) e DMC (Dongfeng Motor Corp.) produzem em parceria com multinacionais, como General Motors, Volkswagen ou Toyota. A Saic, por exemplo, vendeu 1,1 milhão de carros na China no primeiro semestre. Entrar no mercado brasileiro, porém, não é uma tarefa fácil para a China, que exportou 356 mil carros no primeiro semestre deste ano, uma fatia pequena perto dos 6 milhões vendidos localmente. Segundo Alfred Tian, diretor executivo da China Automotive Review, as empresas chinesas ainda enfrentam dificuldades para se adaptar a regras rígidas de segurança e meio ambiente. As exportações chinesas de carros, por enquanto, estão restritas à África, ao Oriente Médio, Leste Europeu e América do Sul. As montadoras chinesas alcançam vendas significativas em países como Colômbia, Venezuela ou Chile.

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