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Moody´s mantém perspectiva negativa para bancos no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar da forte lucratividade dos bancos brasileiros em 2002, após um ano de intensa volatilidade (oscilação), a Moody´s Investor´s Service ? agência de classificação de risco ? está mantendo a perspectiva negativa para os ratings (notas) de solidez financeira das instituições. O risco sistêmico continua alto, explica a vice-presidente da agência classificadora de risco de crédito, Celina Vansetti. Segundo relatório da analista, isso se deve sobretudo ao fato de a qualidade de crédito geral no Brasil continuar limitada pela "sua vulnerabilidade a choques mais freqüentes e mais violentos e, particularmente, a drásticas reversões dos fluxos de capitais e mudanças repentinas na confiança do investidor". A analista afirma que, hoje, "a mais crítica vulnerabilidade do Brasil é a dinâmica da dívida de seu setor público, em que direção e ritmo são determinados pelas taxas de juro doméstico, do câmbio e do superávit primário". Estes fatores, por sua vez, se constituem no principal desafio para as autoridades manterem o equilíbrio entre inflação, crescimento de crédito e estabilidade da moeda. Exposição a títulos públicos justifica decisão Em seu relatório, Celina Vansetti destaca que, porque é detentor cativo de muitos títulos do governo, o sistema bancário brasileiro está intrinsecamente ligado a "este delicado equilíbrio soberano". A Moody´s estima que os bancos brasileiros detêm cerca de 20% da dívida doméstica total, com o restante estando em mãos dos fundos de pensão, fundos mútuos e, em menor medida, das corporações. "Se fôssemos fazer um cálculo aproximado dos encargos do serviço da dívida do governo, que atingiram o equivalente a 9,7% do PIB em março de 2003, poderíamos afirmar que o sistema financeiro recebe aproximadamente 2% do PIB por carregar os títulos do governo", diz a analista. O sistema bancário brasileiro respondeu por cerca de 12% do PIB do País de 1990 a 1994. Depois da introdução do Plano Real, a participação foi drasticamente reduzida para 6% do PIB, em grande parte por causa da redução da inflação, e estima-se que a parcela tenha continuado neste patamar. Volta ao mercado externo Segundo Celina Vansetti, "no momento, as oportunidades para a arbitragem com os juros estão novamente impulsionando o acesso dos bancos aos mercados de capitais internacionais, depois de um período de fraco apetite do investidor pelo risco Brasil". Os bancos brasileiros, que tradicionalmente são os primeiros a testar o mercado externo, retornaram aos mercados de capitais no início de 2003, inicialmente com a emissão de bônus de curto prazo. Mais recentemente, o sentimento positivo do investidor em relação ao Brasil permitiu que bancos selecionados lançassem papéis de prazo mais longo. "Os recursos foram em grande medida reinvestidos em títulos do governo indexados ao dólar", explica a analista. "Mas esta é uma escolha que, de um lado, dá suporte à apreciação da moeda, mas, de outro, aumenta a vulnerabilidade dos fluxos de capitais." Manutenção das posições No curto prazo, a Moody´s acredita que os bancos serão compelidos a manter sua exposição aos bônus do governo por causa da contínua falta de demanda de crédito, que pode continuar pelo segundo e terceiro trimestres de 2003, refletindo a contração na renda e os persistentes juros altos. "De qualquer forma, o sistema bancário brasileiro -- cuja solidez é em grande parte decorrente de seus altos níveis de capitalização e lucratividade - parece estar mais em risco, particularmente se incorporarmos a maior vulnerabilidade a choques", diz o relatório da vice-presidente. "Portanto, a lucratividade do sistema, que é, no geral, oportunista, está atrelada à esperança de que o governo não dê default ou não reestruture sua dívida doméstica", conclui a analista.

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