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Moody’s retira grau de investimento da Eletrobrás

Agência de classificação informou que, apesar da melhora financeira no primeiro trimestre, a antiga nota de crédito não era mais condizente com a situação da empresa

Por Fernanda Nunes
Atualização:

Texto atualizado às 21h30

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A Eletrobrás foi excluída nesta quinta-feira, 21, do grupo de empresas com selo de boa pagadora concedido pela agência de classificação de riscos Moody’s. A estatal do setor elétrico deixou de ser classificada como Baa3 para receber a nota Ba1 e, assim, perdeu o grau de investimento. 

Sem o selo, a estatal passará a pagar juros mais altos toda vez que recorrer ao mercado atrás de financiamento, o que compromete ainda mais sua capacidade de investimento, justamente em um momento em que precisa dar conta de grandes projetos de infraestrutura. 

Em seu relatório, a Moody’s chega a citar a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que levou a auditora KPMG a fazer ressalvas no relatório financeiro da estatal do primeiro trimestre deste ano. Mas foi, na verdade, a fragilidade de caixa o principal motivo para o cancelamento do grau de investimento da Eletrobrás, segundo José Soares, vice-presidente e analista sênior da agência para o setor elétrico. Ele minimizou a importância da Lava Jato na decisão de rebaixamento. 

Esta é a segunda vez, desde 2011, quando começou a ser acompanhada pela Moody’s, que a nota da empresa é rebaixada. A primeira foi em dezembro de 2012. Segundo Soares, a perspectiva de reconquistar o grau de investimento nos próximos dois anos “é mínima”. A estatal poderá ser ainda mais rebaixada nos próximos 90 dias, quando permanecerá em revisão. 

O analista diz não ver motivo para a situação financeira da Eletrobrás melhorar no curto prazo a ponto de reverter o cenário atual, de alto endividamento e muito investimento a realizar, ao mesmo tempo em que possui uma geração de caixa enfraquecida pela implantação da Medida Provisória 579, que forçou a queda da tarifa de energia, em 2012. 

Com a MP 579, a conta de luz foi reduzida em 10%, segundo as contas do governo. O Ministério de Minas e Energia afirma ainda que, com a medida, conseguiu atenuar os efeitos negativos da seca que atinge os reservatórios hidrelétricos e encarece o preço da energia. Para a Eletrobrás, no entanto, a medida significou queda de receita. Ao mesmo tempo, a estatal continua tendo participação relevante nos projetos de construção de usinas hidrelétricas no País. 

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A Moody’s aposta numa piora das condições financeiras da estatal no ano que vem, quando ela deixará de receber receita extra da União pela renovação antecipada de concessões. 

Para Nivalde Castro, especialista no setor elétrico da UFRJ, o rebaixamento da nota da Eletrobrás e o consequente encarecimento do financiamento para a companhia será prejudicial a todo o setor. Como a Eletrobrás participa de praticamente todos os grandes projetos em energia do País, a tendência é que os investimentos, em geral, fiquem mais caros daqui para frente. 

Ele lembra, porém, que os principais investidores são as subsidiárias da Eletrobrás, e não a controladora. A estatal, em sua opinião, poderá recorrer a elas para conseguir financiamento a menor custo.

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