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Morales diz que nacionalização de hidrocarbonetos não fracassou

O presidente boliviano prometeu "uma surpresa" no convênio energético que assinará com a Argentina na próxima quinta-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

A nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia não fracassou, afirmou nesta segunda-feira o presidente do país, Evo Morales, que prometeu "uma surpresa" no convênio energético que assinará com a Argentina na próxima quinta-feira. O governante defendeu a nacionalização das reservas petrolíferas em uma manifestação realizada na cidade de El Alto, em comemoração aos três anos da mobilização popular que terminou com a renúncia do então presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Morales disse que o decreto de nacionalização que assinou em maio passado continua vigente, ao contrário do que sustentam alguns analistas políticos e econômicos. Para demonstrar sua decisão, anunciou que hoje enviou ao Congresso o projeto de lei para "recriar" a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), que terá o monopólio de toda a produção petrolífera. Segundo o decreto de maio, essa "recriação" deveria acontecer em 1º de julho deste ano. Morales acrescentou que na quinta-feira assinará com seu colega argentino, Néstor Kirchner, na cidade oriental de Santa Cruz, um novo contrato de exportação de gás natural, que quadruplicará o volume enviado atualmente e incluirá um convênio para industrializar esse combustível em solo boliviano. "Na quinta-feira vem do gás uma surpresa", prometeu o governante, ao indicar que assinará com Kirchner "um novo acordo de industrialização e exportação". As autoridades bolivianas negociaram com a Argentina a instalação de uma fábrica de separação de líquidos que contém o gás, antes de vendê-lo a esse mercado, para obter um maior valor agregado e procurar melhores preços para esse recurso natural. O chefe de Estado, que continua sendo líder do sindicato de cocaleiros, assegurou que a nacionalização petrolífera avança "passo a passo". Na manifestação, Morales agradeceu aos habitantes de El Alto pelo sacrifício que realizaram em 2003, quando as organizações sindicais e populares da cidade, vizinha a La Paz, realizaram manifestações diárias contra Sánchez de Lozada, até obrigá-lo a renunciar. Os cidadãos de El Alto, que repudiaram o projeto de exportar gás para a América do Norte pelo território do Chile, hoje prestaram homenagem aos 60 mortos nesses protestos e reivindicaram a extradição do ex-governante, que está nos Estados Unidos. Morales disse que instruiu seus embaixadores para que busquem o apoio de todo o mundo para "a expulsão de Sánchez de Lozada" do território americano. "O melhor que os EUA podem fazer é expulsar" Sánchez de Lozada, "se de fato defendem a democracia e os direitos humanos", enfatizou o governante. Por outro lado, Morales admitiu que seu Governo não pode expulsar a Aguas del Illimani, filial boliviana da multinacional francesa Suez Lyonnaise dês Eaux, acusada de descumprir sua concessão nas cidades de El Alto e La Paz. "O problema é que, se a expulsarmos, não conseguiremos crédito para El Alto, e por isso decidimos demonstrar legalmente que a empresa tem que sair", disse, ao confirmar que as autoridades negociam a saída da empresa. O governante também assegurou aos habitantes de El Alto que seu Governo nacionalista, indigenista e de esquerda, instalado há quase nove meses, continua firme em seu propósito de mudar as estruturas da Bolívia. Morales afirmou que seu projeto continua, apesar das ações da oposição, como o "terrorismo financeiro" que constantemente anuncia crises do sistema bancário e a deterioração geral da economia.

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